GENI E A ESCOLHA DE SER MULHER

Uma nova visão sobre as mulheres referindo a música do Ilustre Chico Buarque de Hollanda. (Geni e o Zepelim )

Geni vá brincar com as suas bonecas. Geni vá aprender a costurar. Geni vá ler contos de fadas. Geni vá cozinhar. Geni feche as pernas ao sentar. Geni durma na hora certa. Geni não coma muito. Geni não vá para a escola. Geni não use estas roupas. Geni são saia de casa. Geni faça isso. Geni não faça isso. Maldita Geni.

Geni sempre foi assim. Não seguia as regras. Ela tinha suas próprias vontades. Nunca soube lidar com o fato de que as meninas só podiam brincar de bonecas e casinha. Não se encaixava em nenhum dos padrões adotados por aquela sociedade. Ela fazia questão de ser diferente do estereótipo que esperavam. Que dominavam. Que reprimiam. Que estupravam.

Geni cresceu. E com isso fez sua escolha: de ser mulher. Maldita Geni. Ela queria ser ela. Queria ser livre. Queria o seu corpo livre. Queria seu espaço no trabalho. Queria suas idéias na política. Queria ser mulher na sociedade. Queria sentir prazer. Queria dar prazer. E é por isso que a cidade vive sempre a repetir: “ Joga pedra na Geni. Joga pedra já Geni. Ela é feita para apanhar. Ela é boa de cuspir . Ela dá pra qualquer um. Maldita Geni! ”

E a sociedade à julgou. E à sentenciou de Maldita. Porque ela exibiu tudo o que não poderia ser falado. Ser ouvido. Ser sabido. Porque ela disse tudo o que não poderia ser exposto em casa. Na igreja . Na cidade. Porque ela abandonou a moral. Os costumes. Porque ela ajudou os cegos. Os retirantes. Os que não tinham mais nada. E virou a rainha dos detentos. Dos loucos. Dos lazarentos. Dos moleques do internato. Porque ela foi amiúde com os velhos sem saúde. Porque ela exibiu o seu corpo. Porque ela vendeu seu corpo. Porque Geni , ao contrario de suas bonecas, é mulher. E a sociedade não precisa de mulher que pensa. Que luta. Que grita. Mas sim , que cozinha. Que limpa. Que se cala. Que não denuncia. Que é submissa.

A cidade apavorada. Se quedou paralisada. Seria a chegada de um Zepelim? Não. Mas sim o novo começo. Iniciado por Geni. Uma era das mulheres que eram Geni. Que não queriam ser controladas. Violentadas. Estupradas. Mulheres estas, que se viram em Geni: “ Você pode nos salvar. Você vai nos redimir. Você dá pra qualquer um. Bendita Geni!” Eram todas mulheres. Não bonecas, mas sim mulheres. Artistas. Professoras. Costureiras. Donas de casa. Prostitutas. Lutavam pela visibilidade. Pelo trabalho. Pela política. Pelo seu corpo. Pelo direito de ser o que quiser. De vestir o que quiser. De expressar o que quiser. Lutavam pela queda de preconceitos e padrões. Padrões, que acabavam com sociedade. Padrões esses que apedrejaram Geni.