UM POR CENTO

Enquanto eu estava no banho pensava em como a vida da gente é engraçada.

Mas é uma graça que faz a gente querer chorar.

Engraçado, porque a gente tenta se enganar de toda forma, a gente procura, de toda e qualquer maneira ser feliz e a gente acha que é feliz, enquanto que aquilo de que mais nos faria feliz é o que nos falta.

Eu perdi as esperanças.

Nada é mais desesperador do que isso.

Enquanto você ama sem saber se é ou não correspondida, você luta, você batalha, você sofre um sofrimento bom, porque é um sofrimento que vale a pena ter, você está investindo, é o seu suor, é o seu batom, é o seu perfume, é o seu melhor sabonete, é a sua melhor lingerie, a sua roupa mais bonita, o seu sapato que mais valoriza seus pés... Tudo gira em torno de uma conquista...

E quando você descobre que nada disso serviu, que seu sofrimento feliz foi em vão, você cai na real e diz. Apenas 1 por cento, ao menos um por cento seria o bastante!... Porque o zero é o fracasso.

Veja bem, um paciente que está em estado terminal num hospital qualquer... Se ele tiver um por cento de chance de viver, os médicos lutam, os crentes oram, as carolas rezam... Um por cento é muita coisa! É a esperança que bate à porta! Só um por cento de chance de ser feliz é muita coisa. A pessoa investe, a pessoa luta, a pessoa põe até seu lado melhor para fora! Quer ser notada, desejada, querida, vista, abraçada, quer sair de si para ser de alguém, ao menos um por cento.

O zero é engraçado.

A gente chega lá, investiu, lutou, arrebentou-se de tanto querer, lutou para não mostrar que se arrebentou... A gente quer dar 100% para receber ao menos um por cento.

"Ora, mas isso é se conformar com muito pouco, é muita desvalorização"! É não, meu amado, minha amada que me lê agora. A gente dá 100% de si para receber 1%, porque quem faz buscando receber os mesmos 100% de volta é porque na verdade não quis se doar de fato. E além disso, o 1% é a esperança. Abaixo de zero, tudo é negativo. 1% está bom demais!

Solange Guimarães
Enviado por Solange Guimarães em 01/02/2014
Reeditado em 02/02/2014
Código do texto: T4673257
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