OS "BABACAS" E OS "ESPERTOS"

Quando penso acerca dos comportamentos da humanidade, eu me sinto incluída em ocasiões em que ela levanta as bandeiras da decência, da justiça e da bondade, e me excluo diante de exemplos de ganância, de safadeza e de canalhice (embora esses três últimos substantivos não sejam antônimos perfeitos dos anteriores).

Bondade para mim é uma das virtudes mais importantes para que haja a paz, pois sem ela esse mundo não presta nadinha. Aos que concordam com essa afirmação, eu digo que não basta acenar a cabeça positivamente, é preciso agir e demonstrar, mesmo que sejamos chamados de “babacas”.

Ainda que me considerem assim, eu afirmo que, se eu residisse na região de Sorocaba, SP, certamente, minha foto e meu nome estariam estampados nos noticiários, entre os ativistas que, em 2013, arrombaram os portões e invadiram o Instituto Royal, para libertar cerca de 150 de cães da raça beagle, usados em testes de medicamentos. Isso por que em meu entender, quem não se sensibiliza com o sofrimento dos animais, dificilmente se comove ou age diante dos flagelos humanos. Portanto, entre as atitudes dos “babacas” e as dos f.d.ps., ficarei sempre entre os primeiros.

Há coisas que eu consigo fazer a partir do meu computar, como assinar todas as petições do Avaaz, que, frequentemente, encontro em minha caixa de e.mails. Para quem nunca ouviu falar, informo que se trata de um site projetado para difundir e mobilizar as causas das pessoas de bem em prol da decência, da justiça e da bondade.

Até penso que possa haver perigo para os adeptos, pois a embaixada da Rússia me respondeu personalizadamente (em inglês), logo após eu assinar o pedido de libertação da ativista do Greenpeace, Ana Maria Maciel, presa naquele país após protestar contra a exploração de petróleo no Ártico. Claro que eu preferia que os russos não soubessem que eu existo, mas, como dizia Aristóteles, a covardia e a temeridade ocupam dois extremos: aquela representa a falta de coragem e esta o seu excesso. Ambas não conduzem à felicidade, pois, o caminho que a ela nos conduz é o do meio: a coragem.

Por outro lado, há atitudes humanas que me desgostam, profundamente, dentre as quais eu destaco uma das mais nocivas, aquela que é a mãe da desonestidade, da irresponsabilidade e da indecência: a esperteza. Em seu nome, os políticos ou líderes propõem ou recebem propinas, sacrificando ou prejudicando os “babacas”. Quando estão aos volantes de seus automóveis, esses mesmos ou seus simpatizantes, não veem nada de mais em não parar em cruzamentos, em curvar sem dar setas, em dirigir em velocidade incompatível para a via, em fazer ultrapassagens perigosas, em dirigir alcoolizados, ou em estacionar em vagas de idosos ou deficientes físicos.

Costumamos pensar que a “esperteza” acontece apenas entre os jovens, mas não foi a isso que assisti recentemente. Uma senhorinha de uns 75 anos, com aparência de residente na roça, saia rodada na altura das canelas varizentas, estamparia de vermelho, roxo e verde....chegou em uma “portinha” de comércio, que conta com apenas um funcionário para receber os pagamentos de contas de água, luz, etc. Acho que trata-se de uma alternativa “esperta”, criada pelos bancos para não ter de contratar mais funcionários, mas não tenho certeza.

Pois bem, a idosa aproximou-se do “babaca” que estava prestes a ser atendido e pediu para falar com a caixa, apenas para perguntar se os seus carnês haviam chegado. Informada de que os mesmos se encontravam ali, a velha danada levantou a saia rodada, e de um bolso oculto em seu avesso, tirou o dinheiro e ficou uns vinte minutos pagando suas contas.

Como se aprende muito mais por exemplo do que por palavras, depreende-se uma das causas dos espertos se proliferarem em progressão geométrica: os que deveriam educar por virtudes, prezam os defeitos, e consequentemente, não conseguem ser bons exemplos.

Em uma situação assim, é claro que os “babacas” atônitos, dispostos na longa fila, nada falaram, mas foram vingados e riram muito, quando ouviram o grito de um gaiato lá de trás: “Oh, vó, furar a fila para morrer a senhora não quer não, né?”

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 02/02/2014
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