Dia desses o pessoal de cima estava tagarelando sobre o prédio ser demolido. Incomodados com a situação, alguém levantou e disse a todos que aquilo era inaceitável! O outro, que no máximo deveria passar por uma reparação e que em poucos tempos estaria tudo certo. Na realidade, a reunião ali ocorria porque eram todos jovens ex-estudantes que em algum momento tinham vagado pelas ruas e descobriram uma oportunidade para viver juntos dividindo apartamento. Um detalhe importante é que nada acontece por acaso. Em princípio, vejam bem, ninguém se conhecia. E foi por meio de um mero detalhe que tudo aconteceu. O aluguel do primeiro estava atrasado há três meses e faltava pouco para ser despachado, por isso estava procurando outro local; o segundo estava de passagem, tinha chegado do interior e estava todo doído da vinda das caronas que lhe cederam horas atrás em meio às bagagens dos caminhoneiros; a terceira havia fugido de casa, brigou com os pais porque estes descobriram sua pretensão a falcatruas na instituição de renome que pagavam mensalmente e a quarta, ela foi a que leu o anúncio no jornal e chegou primeiro para disputar a vaga. Todos se encontraram antes do meio dia, sem sorte, sem ideias para o futuro, mas procurando um teto... Algumas horas depois, descobriram que morariam juntos e foi assim durante alguns meses. O que aconteceu depois? Numa certa manhã acordaram e encontraram uma fita amarela com listras pretas rodeando as portas de saída. Na parede uma ordem de desocupação imediata. À tarde daquele dia, cada um saiu em busca de si mesmo em outro espaço, em novas pessoas. E provavelmente, de uma ponte também.