Meninos desavessadores

Interessante o neologismo, principalmente quando originado das crianças. Há uns que serviram de gozação a seus “autores” como o famigerado “imexível” de um ex-ministro de tristes lembranças, que ao ser perguntado quanto ao salário do trabalhador respondeu que era imexível, querendo dizer que não se podia alterar ou mexer, como ele entendia. Há o ditado que “criança diz cada uma”! Meus meninos são pródigos em aparecer com certas expressões. Devem ouvir nos programas infantis que passam por nós despercebidos ou então, estimulados pela profusão de informações que recebem diariamente da TV, na escola, dos colegas, nossas e de outras pessoas no convívio. Um dia destes, minha mulher falava que vira na rede social a fotografia de uns adolescentes empunhando umas espingardas, censurando tal tipo de exibição, parecendo natural para os pais que haviam tirado a fotografia e postado em seu link. Meu filho Jordão, 7 anos que ouvia a conversa, interessado saiu com esta: “E quem são esses espingardeiros”? Fiquei estático por alguns segundos, refletindo. Eu já ouvira o vocábulo carabineiro, que é o soldado usando carabina, tanto que no Chile seus policiais militares são conhecidos por tal expressão ( “carabineros” em espanhol) – Carabineros del Chile. Mas, voltando aos meus meninos Jordão e Israel, atualmente com 7 e 5 anos, respectivamente, minha mulher os encontrou ontem dialogando entre si e usando o verbo desavessar. Fui ao dicionário e não encontrei. Fui à rede e pesquisando no Google encontrei a expressão citada por algumas pessoas, com o mesmo sentido que usavam meu curumins. E um deles dissera: “desavessa minha camisa que eu não sei desavessar”. E outro, apanhou a camisa e em seguida disse: “Pronto, desavessei”. Interessante, como bem observou minha mulher, eles estavam flexionando o verbo (terminado em ar, portanto, da primeira conjugação) dentro de uma lógica formal. O que acontecera é que o menor ao tirar sua camisa deixara-a do avesso e queria desavessar, como bem fez seu irmão ensinando a colocar da forma normal. Espero que eles sejam sempre assim: desavessadores, agindo com retidão vida afora, nunca ficando ou deixando suas coisas do avesso.

Texto escrito em 22/11/2012.