O pequeno gigante

Dias desses, eu estava assistindo ao famoso filme Karatê Kid I. Sim, famoso; se é bom, aí é outro assunto. Só pra ficar claro, gosto do filme, coisa simples. Depois de escutar mais uma vez os intermináveis diálogos do ancião japonês com o garoto americano, me preparei para o “grand finale”, o chute matador.

Lá estava eu, sentado no chão, suando e tenso, esperando por aquele que foi um dos melhores golpes de minha infância. O jovem Daniel, mancando, se apoiou num pé,e... A cena foi tão rápida que nem tive tempo de guardá-la, não fosse pela quantidade de vezes em que assisti a tal aventura.

Confesso que me decepcionou desta última vez, pois pra mim o chute durava uns 40 minutos, ou mais. A cara do jovem era de ódio e fúria, e todos os espectadores gritavam insanamente pelo desfecho da historia. Mas depois eu vi que isso tudo é apenas fruto de minha cabeça. Aquela cabeça de menino, que aumenta as coisas, e transforma gente comum em super herói, super herói em deus, e deus em algo que, apesar de já ter crescido, ainda não saber.

Quando um desses seres, comum, herói ou deus, faz algo com o qual não concordamos, fica aquela mágoa profunda, aquele desalento infantil e tosco. Mas na verdade a culpa é nossa, por darmos excessiva atenção para coisas comuns, tão somente comuns.

E isso serve aos torcedores que tem, por anos, degradado intensamente tudo quanto é canto deste país João Bobo. Dão a vida, que talvez não tenha tanto valor, mas deveria, por coisas nem tão importantes. Neste caso, o chute não deve durar nem 4 segundos, mas, na visão dos brutos de plantão, ganha efeitos cinematográficos. Raios, luzes, relâmpagos, fogos estelares, tudo isso num simples jogo. Daí, quando a magia para de fazer o efeito desejado, vem a realidade, como diz o compositor: “somos todos iguais nesta noite”. O cara que está lá é o mesmo que cá está. Mas o daqui alimenta muito além da conta o de lá. E de lá em cá, de cá até acolá, vira esse rebuliço todo. Ninguém sabe quem é o comum.

No fim das contas, o melhor mesmo é só imaginar, mas tomando cuidado pra tudo isso não se tornar real demais, senão a magia se escoa nessa fenda de realidade bruta.