PEDRA DE BANHO

PEDRA DE BANHO

Até a década de 70, quem viesse pela estrada de Piranga, logo na entrada de Calambau, já se deparava com a famosa “pedra de banho”. Depois dessa época quase não podia ser vista, pois, abandonada, o mato invadiu o seu entorno. Hoje existe uma construção logo à sua entrada.

Era o local onde os meninos calambauenses, desde muito cedo, aprendiam a nadar no Rio Piranga. Não se tem notícia que alguém tenha morrido nessa pedra porque, logo abaixo, havia uma prainha e as águas do rio levavam os nadadores em direção à mesma.

Primeiro, os meninos iam nadar escondido. Quando pediam aos pais permissão para nadar é porque já sabiam há muito...

Todos nadavam em traje de Adão: homens e meninos. A iniciação era na prainha. Depois de um certo tempo era “cair” na metade da pedra, chamada testa, onde bem no fundo havia uma fenda que era chamada de “cofre”. Depois de um certo tempo, já sabendo dar “as braçadas”, os meninos passavam a “cair” da pedrinha, que era uma pedra menor e ficava um pouco acima da grande pedra.

A partir daí era a evolução: mergulho saltando na testa da pedra, saltar o rio, buscar as vagens de ingá que desciam no rio, dar mergulho nos iniciantes, saltar o rio e roubar melancia nas roças do Pedro Sabino.

Mas existia um “porém”, como dizia o Chico Batista: muitos dos que lá frequentavam não cuidavam da limpeza da pedra, o que obrigava os nadadores a andarem com muito cuidado sobre ela...

Eram nadadores famosos, segundo os mais antigos: o Adeícula (Deíco), Geraldino e Amantino Diogo, Manuel Paca, Matias de Moura e outros.

No meu tempo foram: Dadá, Dendê e Nô, filhos do Deíco; Ladinho de Lourico, Ciro Moura, Geraldo Diogo, Doraci e muitos outros. Os dois Ivans: o meu primo, filho da saudosa Tia Letícia e do Tião, e o Ivan de João de Moura e Zita, embora novos, nadavam muito bem.

Nadar de braçada, cachorrinho, estirão, de costa, gamela, eram algumas das modalidades da natação da turma da pedra.

O Padre Pedro dizia que, quando menino, o maior nadador de Calambau era o Deíco. Ele praticava o “nado gamela”, assim chamado porque descendo o rio, o corpo parecia uma gamela boiando. Consistia em encolher as pernas, segurar nos joelhos e ficar girando rio abaixo na correnteza. A turma do meu tempo viu o Nô de Deíco fazer o mesmo.

Com a lua cheia, após as serestas, alguns seresteiros arriscavam um mergulho na pedra, na época do calor . Aos sábados, era comum ver algumas pessoas irem para a “pedra” com sabão e toalha, cumprindo uma tradição que era o “banho aos sábados”...

A pedra de banho acolheu várias gerações e todas elas têm a sua história.

Numa época em que quase não existia lazer em nossa comunidade, era em torno da ” pedra de banho” que os jovens dialogavam e compartilhavam seus sonhos.

A nossa pretensão é apenas relembrar alguns fatos que vivenciamos ou que nos foram contados por pessoas que nos antecederam, de forma a resgatar a memória de nossa cidade. Nada mais do que isso...

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Murilo Vidigal Carneiro

Calambau , janeiro de 2013

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 06/02/2014
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