O homem na estação.

Não consigo recordar-me de quando foi que comecei a notar, e nem mesmo consigo entender o motivo de ter prendido minha atenção a isso. Entretanto, desde que reparei que ele sempre estava ali no mesmo lugar, passei a imaginar seus motivos.

O que faria um homem estar sempre sentado nos bancos da estação, o olhar perdido na direção do sol a se por no horizonte dos trilhos do trem?

Olhos perdidos naquela direção, respiração pesada. Esperando por algo, esperando por alguém? Sobre seu rosto um aparente peso de tristeza ou angustia, é o que poderia dizer. O que o homem da estação aguarda dia após dia, sentado sem embarcar em nenhum dos trens que passavam por ali?

Não pude deixar de imaginar sua história: Poderia ser apenas uma das milhares de pessoas que terminam um dia de trabalho e querem o mais rápido possível voltar para casa. Vestindo sempre roupas tão formais, uma exigência de seu emprego provavelmente, ou apenas um gosto casual de se manter um mínimo ‘elegante’. Ou então um homem aguardando a sua pessoa amada, que um há de ter partido e calmamente ele a aguarda, todos os dias, no mesmo horário esperando sua volta, ou algo do tipo. Poderia ser apenas estar deixando o tempo passar, cansado da correria e do desespero da vida moderna. Nunca poderia realmente compreende-lo apenas imaginando, e não seria eu a perguntar.

Certo dia notei que lá ele não estava, a primeira vez desde que tinha percebido sua figura em incessante pose de observação do horizonte, estático, como uma estátua. Então me sentei no mesmo lugar que ele sempre se sentava e olhei para a mesma direção que ele observava. E não havia nada de mais mágico do que aquela visão, as cores do sol poente se turvavam sobre os trilhos, pelo calor? Não sei, mas isso não importava naquele instante místico. A luz dançava como pequenos corpos sobre os trilhos, como se a porta do paraíso se abrisse e pudesse ver além dela.

Após o momento de epifania notei que pensava mais nos motivos de uma outra pessoa do que pensava em minha própria vida. Há quanto tempo eu não buscava mais algo que me deixasse realmente feliz, e por que estava pensando nisso neste momento?

Quem era o homem da estação e o que ele tanto fazia, seria uma pergunta que eu jamais encontraria a resposta, entretanto fora aquele estranho em sua misteriosa rotina que me fizera voltar a pensar em mim mesmo.

Ariel Lira
Enviado por Ariel Lira em 13/02/2014
Código do texto: T4689772
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