Então, O que é Belo?

Quando eu tinha 11 anos, fui selecionada para fazer o papel de uma bruxa num teatro do colégio. A minha missão era ficar com uma aparência desagradável. Eu, na minha costumeira forma de falar antes e pensar depois, disse para um grupo de pessoas: "Ah, mais isso é um problema. Não consigo ficar feia". A gargalhada foi geral. Não havia eu percebido que tinha sido escolhida para a tal personagem justamente pela minha aparência. Posso afirmar sem medo que esta foi a primeira vez que tive vergonha de sentir-me bonita.

É estranho; mas, o som daqueles risos redefiniu minha concepção de belo. Aprendi a ver a beleza em desconforme oposto ao que meu externo apresentava. Meus olhos não eram brilhantes suficientes, meus cabelos não eram sedosos, nem mesmo meu sorriso era amigável... Não para aquele cenário que criei. Naquele instante eu soube que o que o mundo esperava da minha aparência era uma bruxa.

Os anos correram e aquela cena caiu no esquecimento. Conquistara amizades sinceras e olhares carinhosos. Aos poucos revivia aquela beleza que antes sentira. Até que um outro fatídico transmutou minha energia e uma brincadeira besta lembrou-me da minha falta de direito em gostar do meu visual.

Por questões pessoais, por estar ferida e permitir-me o papel de vítima passei tempo demais tentando esconder-me, buscando não sentir vergonha de apreciar-me. Dos 11 aos 26 vivi numa penumbra íntima, a qual se dissipou gradativamente. Atravessei o inferno antes de notar que o céu era quem deveria construir. Somente depois de encarar meu reflexo e ver que toda a feiura ali desenhada não era minha, mas, aceita por mim, que resolvi buscar a beleza esquecida e compartilhá-la.

Desde quando ser dono de uma característica única torna a pessoa desprovida de encantos? Ao contrário, é a maneira como abraçamos o diferente que nos torna belo. A beleza é sim um estado de espírito! Quando me perguntam se eu emagreci no intento de ficar mais bonita, sou categórica em negar. Primeiro tive que compreender que eu já era linda nos meus trejeitos, para então lutar contra aquilo que por meu caminho eu usei de refúgio.

Cansei da vergonha e da falsa modéstia: Sou linda, por ser eu. E se quiser achar graça disto, não ligo. Não mais.

Karla Hack dos Santos
Enviado por Karla Hack dos Santos em 19/02/2014
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