Fotografia

É estranho como podemos morar em um lugar por tanto tempo e, simplesmente, esquecer as belezas que ele proporciona e esconde. Principalmente se for uma grande cidade, onde os prédios e arranha-céus são o que predomina na paisagem. Contudo, nem tudo está perdido, afinal naquelas horas de folga vale a pena retirar um pouco do seu tempo para resgatar o horizonte ao seu redor. Foi o que decidi fazer essa semana. Aliás, pra ser mais preciso ainda: Hoje!

Por algumas horas da manhã aguardei por uma visita de um encanador para realizar um reparo no meu apartamento. Após tomar café, decidi ligar o computador para ver meus e-mails e me distrair um pouco. O curioso é que chega uma hora em que nos cansamos da rotina, no meu caso esperar pelo segundo dia a visita de um encanador, e fazemos algo que fuja ou a quebre de algum jeito. Optei por ir pra frente do prédio sentar nas escadas. Notei que o síndico realizava reparos no portão no mesmo momento. Conversamos um pouco, e, após uns 20 minutos, ele saiu e eu fiquei nas escadas. E aí foi que me veio o estalo.

Desde que vim morar nesse apartamento sempre tive a sensação de estar em uma encruzilhada. De um lado, uma ladeira bastante íngreme, cuja subida nos dá acesso aos pontos de ônibus e aos roteiros pra ir ao centro da cidade ou para as regiões mais boêmias. Do outro, uma escadaria enorme, cuja subida nos leva direto ao nosso local de estudo e formação. Só podia pensar “puta que pariu, me ferrei”! Por mais que hajam desculpas prontas “não, é perto da facul”, “economiza grana do busão”, “é um bairro tranquilo”, ainda tinha a sensação estranha de estar preso. Faltava (e ainda falta) horizontes para ver no apartamento, uma vez que a janela só nos permite ver um pequeno pedaço da rua. O barato sai caro, mas tudo é válido quando se quer completar os estudos.

No entanto, nem tudo estava perdido ou era desprezível. A entrada do apartamento, aquela mesma da grande ladeira, vista das escadas também dá acesso a vários horizontes. Olhando das escadas, consegui ver pelo menos três saídas: uma rua à esquerda ainda no nível plano; uma rua subindo no topo da ladeira e os carros que subiam e desciam a avenida principal tornando ainda mais intensa e interessante a ideia da continuidade. Não bastasse tudo isso, ainda estava cercado por árvores: uma em cima de mim e outras duas ao longo da subida, curiosamente em alturas diferentes. Será que é pra dar a ideia da natureza resistente ao longo do progresso?

Sinceramente não sei. Só sei que sentar na escada hoje me lembrou do quão é sair de casa. Nem que seja para ver a banda passar, a ladeira subir e os passantes caminharem, me lembrando que não estou só e que os horizontes existem. Mesmo que seja preciso uma fotografia para nos recordar disso...

Andarilho das Sombras

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 20/02/2014
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