Espingarda

A maioridade chegou para Cássio e com ela nova fase da vida se vislumbrou. Além de decidir a profissão a seguir, devia se alistar no Serviço Militar inicial, ou seja, no Tiro de Guerra (TG). Muitos rapazes não gostam de ser selecionados, mas Cássio afirma que a experiência ali adquirida marcou a sua vida. A disciplina foi a maior lição aprendida. Feita a triagem e uma pré-seleção, já no primeiro semestre de 1993, ele foi convocado para o Tiro de Guerra nesta cidade do Divino, conciliando o estudo com os horários de instrução militar. Integrou-se com o número 50 num contingente de 250 homens distribuídos em cinco pelotões comandados pelo Sargento Soares. Diariamente cuidava da farda, engraxava os coturnos, fazia a barba e com certa freqüência raspava bem o cabelo.

Chegava na sede da Instituição às 6 horas, de segunda a sábado, e por duas horas cumpria tarefas, recebia instruções militares, tinha aulas de civismo e cidadania, de armamento, de primeiros socorros, tecnologias sociais, entre outras atividades. A amizade logo se formou naquele contingente masculino o que tornavam mais suaves as tarefas complicadas e difíceis. Era muito comum receberem castigo por qualquer motivo. Havia o “paga 10”, exercício de flexão, que faziam bem amiúde. Mas dois castigos constituíam o pavor da moçada: a limpeza do banheiro e pegar plantão de 24 horas no qual de duas em duas horas fazia-se o rodízio do policiamento na guarita.

O dia de conhecer o fuzil constituía uma grande expectativa de cada recruta. Ao recebê-lo verificava a plaquinha gravada com o seu o número. E, através das instruções do Sargento Soares, foram tomando conhecimento acerca desta arma, seu funcionamento, sua montagem, limpeza e manuseio.

E com as explicações, Cássio observou que o seu estava sem mira. Não titubeou em dizer:

— Sargento, minha espingarda não tem mira.

A gargalhada dos colegas encheu todo o pátio. O sargento não gostou e elevou a voz:

— Repete o que disse! Cássio repetiu: —“ minha espingarda não tem mira”. Por três vezes o Sargento gritou que repetisse. Cássio dizia sem perceber o mico que estava pagando. Foi quando alguém lhe soprou que o nome certo era fuzil e só assim ele entendeu o nervosismo do Sargento. As gargalhadas cessaram, mas o apelido que recebeu de “Espingarda” só foi esquecido ao encerrar os serviços do Tiro de Guerra e receber o certificado de Reservista. E é importante dizer que naquele dia o banheiro ficou um brinco!

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 21/02/2014
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