Descaminhos

É estranho quando começamos a pautar nossos caminhos por grandes escolhas ou cursos que parecem guardar as respostas para toda uma vida. Fica aquela sensação esquisita de “vou apostar todas as minhas fichas” como se nada parecesse nos completar ou que a nossa história não pudesse ser imensamente maior do que aquele breve período curto de uma especialização ou pós. Foi assim que eu me senti ao adentrar o mestrado.

No início tudo eram ganhos: mundo acadêmico, grandes professores e uma vida voltada aos estudos. Parecia que aquele era o meu mundo. Mas só parecia... Aos poucos sem perceber fui me afogando nesse pesadelo. Reclamações atrás de reclamações e vários cortes a qualquer tentativa de fugir da caixinha. Sem querer acabei protagonizando um vídeo do Pink Floyd...

O efeito disso tudo? Comecei a ficar desanimado e notar, que, lentamente a minha porção de pesquisador foi morrendo... Passar a detestar minha própria pesquisa, especialmente no dia em que a minha orientadora encheu pra dizer: “vou vai fazer um quadro”. Nesse dia, eu “morri” academicamente. Vi-me limitado e preso por frases que não pertenciam ao meu repertório. Alguns amigos leram meu trabalho e volta e meia perguntavam “cadê você no texto”? Não sabia responder. Passei a baixar a cabeça como um cão qualquer e obedecer. Segui nesse ritmo até pouco mais da metade do caminho. Foi quando algo aconteceu...

Cravar um clichê tão grande como “o gigante acordou” não parece caber nesse cenário por dois motivos. O primeiro é que se eu tivesse REALMENTE levantado, mudaria uns 80% da pesquisa. Tentaria dar vida a algo que parece fadado a morte. E o segundo é que pouco seria “gigante” bater de frente com uma velha incapaz de perceber as próprias repetições e limitações, afinal faz a mesma coisa há mais de 20 anos...

Comecei a me reerguer a partir do incentivo e das “provocações” de amigos. O mundo não se limitava somente aquele pequeno espaço. Vi potencial para mais e mais. E fiquei feliz. Satisfeito em ver que de dentro de mim, várias vozes passavam em se juntar e unir em um uníssono som dizendo “saia daí”! “você não pertence a esse lugar”! “você pode bem mais do que isso”! e várias outras expressões do gênero. Sentia o vento e o mundo das possibilidades a chamar cada vez mais e, em um louco diálogo pedia solenemente para me esperarem, pois não pretendo me demorar muito mais aqui.

Após tantas pedras caindo na minha cabeça, começava a ver a luz. Passei por maus bocados. Chorei menos do que devia e queria. Sobrevivi. A luz está próxima. Muito próxima. E eu não quero mais perdê-la. Aprendi muito na dificuldade. Quem sabe eu cresça ainda mais, uma vez que posso ser bem mais quando em paz...

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 22/02/2014
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