Muito Barulho por nada! Que venha a quarta feira de cinzas!

Mikhail Bakhtin fortemente defendeu o conceito de carnavalização social. Em um país como o nosso, que toma tal festa como símbolo, é possível perceber, que a teoria fundada pelo filósofo russo, guarda dentro de si a face, mais do que revelada, do verdadeiro Brasil.

Empregando o conceito de Bakthin, na atualidade, pode-se dizer que o carnaval mais do que uma festa popular, é a personificação imaginativa do socialismo marxista. Uma festa na qual os pobres são soberanos; em seus carros alegóricos e fantasias suntuosas; ao passo que os mais afortunados, se associam em uma massa, que guiada por tais carros e trios elétricos, caminham nas ruas e calçadas com seus chinelos e bermudas simplórias. A elevação do proletariado e o rebaixar da burguesia. Um contraste entre o luxo costumeiro destes, e a simplicidade apresentada por aqueles, que nestes três dias de festa têm os holofotes direcionados a si.

Pode-se dizer que, em parte, Bakthin possui sua razão, porém, com alguns equívocos. O que ele não contava nessa história é a oportunidade enxergada pelo grande capital. Aquilo que era para ser uma inversão provisória, reversível ao surgir da quarta feira de cinzas, se tornou uma oportunidade de comércio, como qualquer outro feriado. O carnaval se tornou uma máquina à economia do país; que em meio ao show de luzes e cores, enche os bolsos daqueles que, apenas, deveriam assumir seu papel de coadjuvante nessa história.

Nisso tudo, o que chama a atenção é o papel do estado diante de eventos de grande proporção como esse. Ambulâncias são deslocadas para o amparo de bêbados. Verbas em exagero são despejadas para a realização da festa. E as famosas propagandas governamentais sobre o uso de preservativos são divulgadas a todo instante; como se este fosse o único momento em que a espécie estivesse em época de reprodução. A “cereja do bolo” deste pão e circo cultural são os famosos “Rits” de carnaval; que ao caírem no gosto popular, parecem vendar os olhos do povo, para a situação de miséria, na qual o país se encontra.

Percebe-se, assim, as proporções, que assume a mão oculta, controladora desta nação. A maneira que os detentores do capital jogam os búzios, que direcionarão os rumos do país; fazendo com que o estado mobilize estrondosos recursos, para suprir os interesses de uma elite em prol do lucro. Recursos quais na ausência de festas o mesmo se mostra omisso. Onde está esse excesso de ambulâncias, quando se precisa? Onde está o excedente de policiamento, quando um torcedor é agredido, ou um cidadão assaltado?

O Carnaval de 2014 será a metonímia, da já dada como “fracassada”, copa do mundo. Apesar de considerada por muitos como a humilhação da nação diante do planeta, o país conseguirá realizar seu objetivo; mesmo com sua maneira torta de ser. Porém, no caso da Copa com um agravante. O Brasil contrairá gastos como Sochi, só que entregará o costumeiro serviço “porco”, que já se tornou seu nome do meio. As manifestações programadas - outra questão muito discutida, nestes meses, que antecedem o mundial - serão dizimadas de maneira brutal, pois, agora, mais do que atacar o governo, tais protestos afligem os bolsos de quem realmente manda nessa “terra de ninguém”. Viveremos no Panoptismo de Focault em que seremos condicionados pelo Vigiar e Punir.

Não sou contra o carnaval. Muito menos um extremista pró-socialismo. Apenas acredito que festas são festas. O carnaval, mais do que a dança do acasalamento, proliferação de drogas, bebidas e prostituição; é uma marca de nossa cultura, e deveria ser visto como a tal. Acredito que com os anos a essência dessa comemoração se perdeu. Aquilo que Bakhtin tanto edificou foi para o buraco. E mais o tradicional confete e serpentina foi esquecido, em meio a tanto barulho por nada. Que venha a quarta feira de cinzas!

Vinícius Bernardes
Enviado por Vinícius Bernardes em 24/02/2014
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