Eu, em minha humanidade tão vulnerável, confesso que chorei e ainda choro  quando recordo da morte de tantos jovens naquele triste episódio da boate Kiss. E, sempre me pergunto porque temos de conhecer tantas tragédias para refletirmos sobre o signficado do existir, o valor da vida enfim, de sentimentos tão reais em nossa missão de sermos pais, mães, irmãos, parentes próximos, conjuges e amigos (mais chegados ou meros conhecidos).
     Há fatos, atos e realidades que jamais ousariamos prever ou antever em nossa concepção do que seja viver, gerar filhos e acreditar que tudo deveria ser eterno e que o ciclo natural 'de todos os nossos sonhos, anseios e desejos' deveriam seguir uma ordem 'cronológica' em nosso existir. Ou seja, os pais nunca deveriam enterrar os seus filhos. Morressem antes por respeito a 'hierárquia' existencial. No entanto, tal hierarquia não existe. Há uma 'determinação' sobrehumana que sempre nos induz a refletir que 'se podemos determinar ou decidir sobre a concepção de qualquer ser que venha a nascer através de nós' não podemos determinar 'quando este ser deverá partir'. E, embora, há milhares de anos, a realidade tenha nos confrontado a confirmar esta realidade, nunca estamos ou estaremos preparados para ela. Talvez porque fomos abençoados para gerar vidas e não para 'aceitar a partida, que denominou-se 'morte' e cujo termo não foi criado por nós. Desde que o mundo é mundo já se sabia que a vida inevitavelmente nos levará a morte. Um escritor, cujo nome não recordo agora disse: "Desde o instante em que se nasce já se começa a morrer!". (Creio ter sido Fernando Sabino). Então, a cada 'aniversário' deveriamos comemorar a proximidade deste 'ato' que na advertência de Chico Xavier deixou-nos uma preciosa lição quando lhe foi perguntado:
- Chico, você tem medo de morrer?
     E, ele, em sua maneira espiritual de crêr na eternidade do ser humano respondeu:
- Não! A morte não me assusta. Mas o 'ato de morrer' por vezes me incomada, pois precisamos estar preparados para passar por ele.
     Foi mais ou menos assim que recordo de sua resposta. Talvez  haja alguma diferença nos dizeres, mas na essência ele nos fazia refletir sobre o 'gesto de morrer' e que tal gesto requereria de nós uma preparação. Talvez desapegarmos da 'materialidade' do nosso existir. Talvez, sobrepuljarmos todo e qualquer 'desejo humano' e nos submetermos aos designos absolutamente incontroláveis por nós quando é chegada a nossa hora mesmo que saibamos que nunca, jamais, seremos capazes de precisar em que momento deixaremos de existir; E, ainda que a ciência esteja avançada e tenha indicativos evidentes do que possa ser capaz de 'aumentar ou reduzir' os nossos 'dias existenciais' diante de fatores genéticos ou de problemas adquiridos ao longo de nossas vidas que são denominados 'doenças' e que por vezes possam ser 'fatais'. 
     As pesquisas científicas tem por finalidade nos 'alertar' quanto 'as maneiras de prolongar nossa existência' e por isto não devemos desconsiderá-las e sim, procurar seguir as orientações que delas possam advir.
     Fico questionando por qual razão as pessoas que venderam 'tantos ingressos' para aquela noitada na Boate Kiss não consideraram o número de pessoas que caberiam naquele espaço. Assim, como fico me perguntando por qual razão as pessoas que lá estiveram não foram capazes de perceber' que aquele local não suportava 'tanta gente' e que naquele local não havia nenhuma 'orientação' para garantir a 'segurança' de tantas pessoas".
     Será que os nossos 'sensores de proteção e cautela' - que garantem a nossa sobrevivência - só funcionam depois de uma certa idade?
     Será que o 'amadurecimento' individual ou coletivo necessita de uma 'tragédia' daquele porte para nos fazer crescer e aprender sobre a importância de raciocinármos... a fim de amadurecermos?
     Será que se a 'fiscalização dos órgãos competentes' tivessem sido realizadas no inteiro teor do que estabelece as normas de segurança teriam evitado aquela tragédia?
     Com certeza a resposta a este último questionamento parece eliminar a necessidade de qualquer resposta aos questionamentos precedentes  considerando que por princípio constitucional 'é dever do Estado' e consequentemente 'dos órgãos que o representam' garantir 'o direito a vida' que é o bem maior de toda e qualquer sociedade democrática. E, além deste direito irrenunciável é dever do Estado 'garantir e preservar a dignidade humana'.
     Tais direitos não requerem de nenhum de nós - enquanto cidadãos - que tenhamos exacerbada cautela quanto aos nossos atos ou omissões.      Devemos ser 'protegidos' ainda que nossas atitudes possam revelar que 'não fazemos tanta questão de tal proteção'. Ou, ainda que expressamente venhamos "abdicar" de tal proteção. Independentemente do que nós possamos '(des)considerar' quanto a importância do 'gesto de viver' o Estado tem a obrigação de 'nos manter vivos' porque toda a essência de uma sociedade sempre se justificará por causa da 'existência humana'. Isto é fato incontestável. A vida sempre terá prevalência sobre a morte ainda que esta seja inevitável apesar de ser imprevisível.
     No entanto, em minha experiência profissional no campo da 'docência' tenho verificado que as matrizes curriculares - em todas as suas etapas - não priorizam o conhecimento acerca 'dos direitos e garantias fundamentais' previstos na Constituição Brasileira e consequentemente destinados a todo e qualquer cidadão. E, que, por vezes, nem mesmo aqueles cidadãos que optam pelo curso de Direito ou Ciências Jurídicas - como preferem alguns - se preocupam em compreender a importância destes direitos e garantias.
     É, no mínimo, 'lamentável' tal constatação uma vez que esta realidade revela que o 'significado e importância da cidadania' não foi e não está sendo trabalhado nas diversas fase da vida - todas importantes e fecundas ao aprendizado.
     Você que é pai, que é mãe, que é avô, que é avó, que é tio, que é irmão, enfim um ser humano que está ligado a alguma criança, adolescente ou adulto (independente do porque ou do senão) observe a matriz currilar que os 'educandários' (escolas, faculdades e universidades) oferecerão áqueles que lhe são caros ou pelos quais sejam responsáveis. Verifique se há alguma disciplina que em seu conteúdo ensinará - a estes seres humanos -   cidadãos - a cerca dos ' direitos e garantias constitucionais' que todos nós devemos conhecer para 'aprender a nos valorizar e nos proteger' bem como 'respeitar o nosso próximo no mesmo nível de reciprocidade'. 
     Não fique indignado se constatar a ausência deste contéudo nos currículos escolares. Mas saiba que diante desta infeliz 'constatação' seremos capazes de compreender por qual razão morreram tantos jovens na Boate Kiss. E, ainda que você ore por eles, pelos pais deles, pelos parentes deles, pelos amigos deles, tal oração não terá o condão de impedir que esta triste realidade não volte a acontecer.
      Porém se você se unir a outros pais, mães, irmãos, parentes e amigos  e demonstrar a importância de se transmitir tais 'direitos e garantias fundamentais' a todo ser humano - dignamente humanos - com certeza as lágrimas derramadas aos mortos na Boate Kiss terão uma oração direcionada ao indispensável aprendizado que o Estado tem por obrigação de nós ofertar.
     Mas, se verificar que há tal omissão por parte do ente estatal responsável pela nossa educação, não fique de braços cruzados esperando que aconteça mais de duzentas mortes novamente, como ocorreu na boate Kiss. Lute para que todo e qualquer cidadão - criança, adolescente ou adulto - saiba distinguir entre a 'prevalência da significação e dignidade da vida' e nunca pela aceitação imponderável do 'ato de morrer'. Pense nisto!

Liliane Prado
(Exercício Literário)

 

 
Liliane Prado
Enviado por Liliane Prado em 28/02/2014
Reeditado em 28/02/2014
Código do texto: T4709774
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