Indigente!

Estava encostado numa parede fria, meus pulmões gelados, inspiravam, mas o ar parecia não passar, minhas pernas estendidas ao chão, nem sentia mais aquele piso duro e sujo. Estendia a mão, para receber com gratidão algumas moedas, que nem conseguia ver 0 valor... Ali passavam pessoas de todos os sentimentos, opiniões e medo de um mal trapilho, preconceitos de uma sociedade doente. Muitas senhoras, todas arrumadas passavam com seus filhinhos pegos pela mão, desviavam e faziam menção de repulsa a seus filhos, como se vissem algo nojento, imundo; Eu simplesmente tinha força para levantar a mão para menção de esmola. Vez ou outra transitavam jovens, faziam pouco caso, como se fosse uma lata de lixo, com uma diferença: a lixeira as pessoas se aproximam! E lá eu ficava ouvindo murmurinhos: O que fez de tão grave para estar nessa situação? Deve ter matado, foi bandido, são muitas as opiniões... Raramente aparecia uma alma piedosa que jogava algumas moedas. Foram muitas décadas de frio, humilhação, desprezo, milhares de rostos voltados para o vazio, para ignorar um filho de Deus como qualquer outro. Tudo um dia se transforma, mesmo eu, que nem um nome tinha, não havia uma única pessoa ou família. Um dia frio, passei a não sentir mais aquele frio que dói, fiquei quentinho e sentindo-me muito melhor parecia que tudo estava se resolvendo... Hoje estou aqui em uma Universidade de Medicina, em uma bacia de metal gelada, mas não sinto mais frio; As vezes dentro de um tanque com água e formol, então sou levado novamente para outra sala para ser estudado. Há sim, com uma diferença, agora todos querem me ver! Ficam atentos a cada membro , com olhos arregalados acompanham todo meu corpo; Aqueles jovens ricos e esnobes que se desviavam milhares de vezes, hoje vão ao meu encontro e ficam felizes quando tem aula prática. Veja como o ser humano é tolo... Mas essa é a natureza humana, eu cumpri minha missão que é salvar milhares de pessoas, tudo por tão poucas moedas.