E Assim Se Foi o Poeta

Era um lindo homem que caminhava solitariamente por uma estrada chamada vida e que semeiava boas sementes através das palavras quando falava de amor. Ele era alto, magro, possuia cabelos grisalhos e carregava a simplicidade na alma. Ele não era daquela cidade, porém não era estranho naquela pequena e pacata cidade. Era um andarilho e em suas andanças escolhia sempre a nossa cidade para suas estadas.

Nestas visitas constantes e duradouras, aprendemos a conviver com ele e até sentiamos a sua falta quando nos deixava. Suas palavras eram puras e sábias que nos serviam de afagos para a alma e alimentava as nossas esperanças. Em uma certa manhã eu estava observando e o vi conversando sozinho no jardim da catedral. Então o observei por alguns minutos e me aproximei perguntando-lhe:

-- Por que falas sozinho?

Ele respondeu-me sorridente:

-- Como te enganas comigo, eu não estou falando sozinho. Eu simplesmente estou apreciando a natureza, os aromas das rosas e conversando um pouco com as borboletas e os beija-flores.

Ele realmente era um ser humano extraordinário, conversava a respeito de tudo com naturalidade. Sabia conviver adequadamente com o ambiente e respeitava as diferenças e as individualidades de cada ser. Ele passeava pelas ruas e não se importava com o dinheiro e nem dava importância ao luxo. Ele tinha uma simplicidade inata e falava com amor e do amor a todas as criaturas. Eu sempre frequentava a praça nos finais das tardes para tomar sorvetes e aprender um pouco mais com aquele homem simples que trazia consigo apenas a sabedoria como a sua companheira.

Ele andava pelo o mundo cumprindo a sua missão e de vez em quando sumia. Depois de um certo reaparecia. Quando ele voltava era tamanha a nossa alegria que a praça entrava em festa com a volta do poeta. Até o palhaço, o pipoqueiro, o vendedor de balões e o gari entravam no compasso do baião ao som da banda municipal. Atualmente estas comemorações não acontecem mais. Pois aquele homem sábio partiu e até hoje não mais voltou. Só nos resta a convivência com a saudade daqueles tempos festivos e da presença do poeta que infelizmente se foi e que ainda permanecemos a esperar sem ter a certeza de que irá voltar.

Simplesmente o tempo passou e nos trouxe mudanças juntos aos novos tempos que surgiram. Reformaram a praça, substituiram os copos- de-leite pelas as azaléias. Trocaram as pedras dos canteiros do jardim, retiraram o chafariz com queda d'agua e até o pipoqueiro já não existe mais lá. Simplesmente o tempo passou, aderiu novas mudanças e assim se foi o poeta.