Imagem Maria Mineira
As palavras proferidas pelo coração não tem língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler.
José Saramago
—À benção mãe.
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Nós de Nós
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.com/nosdenos.htm
As palavras proferidas pelo coração não tem língua que as articule, retém-nas um nó na garganta e só nos olhos é que se podem ler.
José Saramago
—À benção mãe.
—Deus te abençoe, filha.
—Mãe, amanhã é dia do Exercício Criativo.
—Aquele texto quinzenal que você quebra a cabeça e nem sempre dá conta?
—Esse mesmo! Muitas vezes a senhora até me deu ideias... Vim aqui hoje por conta disso.
—Ahh, então não veio me ver?
—Mãe, vim te ver e pedir ajuda. Aproveito e mato dois coelhos com uma paulada só.
— Sobre qual assunto veio perguntar?
— “Nós de nós”. É esse o tema!
—Ih minha filha, isso é coisa para gente estudada. Dou conta não, Sá!
—Não diga isso, mãe! A senhora sabe das coisas, tem experiência de vida. Tanta história bonita já me ajudou escrever...
—Olha filha, o que eu sei de nós, não sei se vai lhe servir. Já ouviu alguma pessoa falar que fulano de tal é nó cego?
—Ouvi sim! Acho que são pessoas difíceis de lidar, não é isso?
—É sim.
—Mãe, tudo que a senhora for lembrando me diga. Hoje mesmo comentei com algumas amigas: Marli me disse para fechar os olhos e deixar fluir, que algo de bom viria. A Maith, amiga do Recanto, achou esse tema muito rico, justamente por ser tão vago. Marina Alves, disse-me, se fosse com ela tentaria escrever um conto sobre uma história de amor acabada onde houvesse os nós que amarraram pra coisa não dar certo.
—Se a gente for para o lado de amarração eu até sei de uns... Tem aquela crendice: se desejar lembrar-se de algo importante amarre um cordão ao redor de seu dedo indicador e dê um nó! Na roça o povo sempre acreditou muito nessas coisas.
—Que bom! Amarre logo seu dedo e lembre-se que eu vou anotando!
—Os antigos diziam que um jeito de ter o amor de uma pessoa para sempre era pegar uma peça de roupa íntima de cada uma das partes envolvidas e atar uma na outra com três nós bem firmes. Depois era preciso esconder onde nenhum dos dois nunca mais vissem. Senão perdia o encanto.
—Ótimo mãe! Tá vendo como você sabe das coisas? Tem mais?
—Olha tem as crendices envolvendo bichos. Quando se quer fazer um boi ficar bravo é só dar um nó na camisa. Se bem que não sei pra quê enfezar o coitado do bicho. Se aparecer uma cobra e a pessoa quiser impedir que ela fuja, é só dar um nó na ponta da roupa e ela fica paradinha.
—Lembra-se de outras de bichos e nós, mãe?
— Sei que os antigos tinham o costume de dar um nó no rabo dos cavalos antes de montar. Naquele tempo só se viajava a cavalo e com a cauda amarrada, o animal não sujava o cavaleiro na hora de passar em brejos, ou andar em estradas enlameadas. No final da viagem não podia esquecer de desfazer o nó antes de soltar o animal no pasto, dava azar. O dono não teria sorte nos negócios envolvendo animais.
—Bom demais! Já rascunhei quase duas folhas do meu caderno. Lembrei-me da Tia Maria dizer que, se a gente tivesse com orelha queimando era pessoa falando mal e para fazer parar tinha que dar um nó na alça da combinação. Hoje ninguém mais usa essa peça. O jeito é deixar falar, né mãe?
—Tem razão. Voltando aos nós... Eu já contei que povo antigo falava que criança só pode levar palmada depois que aprende a fazer um nó?
—Dessa eu lembro! Já sabia fazer vários tipos de nós há muito tempo e por via das dúvidas, eu fingia não dar conta... Lembra-se disso mãe?
—Claro que sim! Você menina, dava nó em goteiras e ainda escondia as pontas!
—Tá vendo mãe? Sem querer apareceu mais um nó! Essa fala aí denominava criança levada não era?
—Criança levada e esperta. Seu vovô Joãozinho quem dizia que você era assim.
—Mãe...
—Fala, minha filha.
—Saudades do vovô Joãozinho...
—Eu também. Saudades às vezes faz a gente sentir um nó na garganta.
—Tem uma música que fala desse nó...
—Canta um pedacinho?
“Como é triste a gente ver que o amor vai indo embora
Parece um final de tarde de um domingo triste
Dá um aperto no peito e um nó na garganta
“Que melhora um pouco só quando a gente vai embora.”
* Trecho de "Nó na garganta". Uma música de Renato Teixeira.
—Mãe, amanhã é dia do Exercício Criativo.
—Aquele texto quinzenal que você quebra a cabeça e nem sempre dá conta?
—Esse mesmo! Muitas vezes a senhora até me deu ideias... Vim aqui hoje por conta disso.
—Ahh, então não veio me ver?
—Mãe, vim te ver e pedir ajuda. Aproveito e mato dois coelhos com uma paulada só.
— Sobre qual assunto veio perguntar?
— “Nós de nós”. É esse o tema!
—Ih minha filha, isso é coisa para gente estudada. Dou conta não, Sá!
—Não diga isso, mãe! A senhora sabe das coisas, tem experiência de vida. Tanta história bonita já me ajudou escrever...
—Olha filha, o que eu sei de nós, não sei se vai lhe servir. Já ouviu alguma pessoa falar que fulano de tal é nó cego?
—Ouvi sim! Acho que são pessoas difíceis de lidar, não é isso?
—É sim.
—Mãe, tudo que a senhora for lembrando me diga. Hoje mesmo comentei com algumas amigas: Marli me disse para fechar os olhos e deixar fluir, que algo de bom viria. A Maith, amiga do Recanto, achou esse tema muito rico, justamente por ser tão vago. Marina Alves, disse-me, se fosse com ela tentaria escrever um conto sobre uma história de amor acabada onde houvesse os nós que amarraram pra coisa não dar certo.
—Se a gente for para o lado de amarração eu até sei de uns... Tem aquela crendice: se desejar lembrar-se de algo importante amarre um cordão ao redor de seu dedo indicador e dê um nó! Na roça o povo sempre acreditou muito nessas coisas.
—Que bom! Amarre logo seu dedo e lembre-se que eu vou anotando!
—Os antigos diziam que um jeito de ter o amor de uma pessoa para sempre era pegar uma peça de roupa íntima de cada uma das partes envolvidas e atar uma na outra com três nós bem firmes. Depois era preciso esconder onde nenhum dos dois nunca mais vissem. Senão perdia o encanto.
—Ótimo mãe! Tá vendo como você sabe das coisas? Tem mais?
—Olha tem as crendices envolvendo bichos. Quando se quer fazer um boi ficar bravo é só dar um nó na camisa. Se bem que não sei pra quê enfezar o coitado do bicho. Se aparecer uma cobra e a pessoa quiser impedir que ela fuja, é só dar um nó na ponta da roupa e ela fica paradinha.
—Lembra-se de outras de bichos e nós, mãe?
— Sei que os antigos tinham o costume de dar um nó no rabo dos cavalos antes de montar. Naquele tempo só se viajava a cavalo e com a cauda amarrada, o animal não sujava o cavaleiro na hora de passar em brejos, ou andar em estradas enlameadas. No final da viagem não podia esquecer de desfazer o nó antes de soltar o animal no pasto, dava azar. O dono não teria sorte nos negócios envolvendo animais.
—Bom demais! Já rascunhei quase duas folhas do meu caderno. Lembrei-me da Tia Maria dizer que, se a gente tivesse com orelha queimando era pessoa falando mal e para fazer parar tinha que dar um nó na alça da combinação. Hoje ninguém mais usa essa peça. O jeito é deixar falar, né mãe?
—Tem razão. Voltando aos nós... Eu já contei que povo antigo falava que criança só pode levar palmada depois que aprende a fazer um nó?
—Dessa eu lembro! Já sabia fazer vários tipos de nós há muito tempo e por via das dúvidas, eu fingia não dar conta... Lembra-se disso mãe?
—Claro que sim! Você menina, dava nó em goteiras e ainda escondia as pontas!
—Tá vendo mãe? Sem querer apareceu mais um nó! Essa fala aí denominava criança levada não era?
—Criança levada e esperta. Seu vovô Joãozinho quem dizia que você era assim.
—Mãe...
—Fala, minha filha.
—Saudades do vovô Joãozinho...
—Eu também. Saudades às vezes faz a gente sentir um nó na garganta.
—Tem uma música que fala desse nó...
—Canta um pedacinho?
“Como é triste a gente ver que o amor vai indo embora
Parece um final de tarde de um domingo triste
Dá um aperto no peito e um nó na garganta
“Que melhora um pouco só quando a gente vai embora.”
* Trecho de "Nó na garganta". Uma música de Renato Teixeira.
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Nós de Nós
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.com/nosdenos.htm