O QUE PIAGET PENSARIA SOBRE ISTO?
– Crianças, quero que vocês tragam para a aula de amanhã um ovo de gato! Disse a professora com a música do Ventania na cabeça, usada como laboratório.
– Gato, fêssora? Gato num bota ovo! Respondeu uma das crianças.
– Como assim? como você sabe disso? Pergunta a professora para o menino.
– Ué, fêssora, lá em casa tem gato e ele não bota né! E nem a gata! Responde novamente a criança, tirando qualquer possibilidade de a professora ter enganado o gênero do animal na primeira pergunta.
– Então, Chiquinho, como o gato fez para nascer?
– Ora, fêssora, ele saiu de dentro da mãe dele, uma gatinha que tem lá em casa também!
Todas as crianças deram uma risadinha irônica e a professora, feliz porque suas crianças podem aprender sobre a gestação dos mamíferos por conta própria, e também porque as letras das músicas dos artistas irresponsáveis não as tirarão a verdade do que sabem, fez outro teste.
– E você conhece algum bicho que nasce de dentro de um ovo?
Logo respondeu o Chiquinho.
– Claro, fêssora...
Rapidamente as outras crianças entraram no jogo.
– NÓS TAMBÉM SABEMOS, FÊSSORA: A GALINHA, O PATO, OS MARRECOS... [Soltaram a tradicional risadinha coletiva, ganhando a companhia do Chiquinho]
E a professora:
– Nossa, como vocês sabem de tudo isso?
Quem respondeu foi o Chiquinho:
– É que na casa de todo mundo tem desses bichos, fêssora!
Mais uma vez o construtivismo funcionou para a professora ensinar sobre os ovíparos.
– Amanhã quero que todos vocês subam no pé de couve da casa de vocês e tragam uma couve para mim! Volta a forçar a memória das crianças a sábia professora.
– Não, fêssora, couve não dá em árvore, vou pegar no canteiro!
Dessa vez quem se manifestou rapidamente para fazer a correção do "vacilo" da professora foi o Joãozinho.
– Hum... mas, se dá no canteiro, no meio de tantas outras folhas, como vai saber que é couve e trazer um molhe para mim?
– PELO CHEIRO! Respondeu a turma toda.
Bom, até a geração dos meus sobrinhos foi seguro essa cena ser possível, mas a partir deles começa a ficar comprometido, pois cada vez mais a vida urbana impede que as crianças saibam essas coisas por não terem contato com os animais e plantas. E, de quebra, ainda têm que entrar em contato com letras de canções e programas de televisão que lhes confunde a realidade das coisas!
Caberá à multimídia mostrar para elas, embora se considerarmos a interferência do non sense na arte, isso poderá também estar comprometido. Mas, e o cheiro das coisas?
Eu sou o A.A.Vítor, autor do livro "Contos de Verão: A casa da fantasia" e esta foi a minha estréia aqui neste espaço formidável. "Formidável"? Ó... quanto tempo eu não me lembrava...