Mais uma mãe, apenas mais uma...

Ao meu lado no ponto de ônibus mãe e duas filhas aguardam a lotação. Eu também! Só que muito mais calmo que a mãe das garotas.

- Fica quieta menina, não sabe se comportar?

- O que fiz mamãe? Apenas queria ler um texto que escrevi.

- Já disse que agora não! Cale a boca!

A garota seguiu em silêncio, quieta, acatando a ordem matriarcal. Confesso sentir falta de amor daquela mulher para com suas filhas. Fumava incessantemente e ao lado a mais velha exclamava:

- Para mamãe! Essa fumaça me atrapalha!

- Rá, rá, rá! Vocês são a pedra no meu caminho. Maldita hora que engravidei.

A menina menor perguntou:

- Mamãe: como fica grávida?

- Vai fazer um para você ver!

Tamanha incompreensão desatinava aos passageiros que aguardavam o transporte. Aos poucos todos foram saindo evitando a repreensão da mãe. Dedo na cara da mais velha e mais um sermão ilógico:

- Aquele batom que você passa é de prostituta!

Não acreditei escutar aquelas palavras pronunciadas por uma mãe. Respirei para não revidar com vocábulos e engoli mais essa.

O ônibus chegou: as meninas subiram, depois da mãe, e na janela a matriarca deliciava-se com o passeio. De fato parir é fácil, o difícil é educar a cria quando não se é educado.

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 02/05/2007
Código do texto: T472613
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.