O estranho colecionador!

Pois é.... Admito sem problemas a inveja que tenho daquelas pessoas que colecionam coisas e que são capazes de comportamentos e atitudes inusitadas para conseguirem “aquele” item que falta para aumentar o seu acervo, o qual nunca estará completo. Existem aqueles colecionadores que buscam e amealham pequenos objetos:selos, tampinhas de garrafa ou caixas de fósforos antigas. Outros desenvolvem estranhas compulsões e se lançam a colecionar objetos incomuns ou pouco usuais e que acabam por confundirem-se com os seus amados objetos de desejo. Conheço um sujeito que parece estar se preparando para uma expedição á selva amazônica ou montando algum grupo guerrilheiro, tal a sua predileção por coisas ligadas ou semelhantes á material militar de qualquer tipo. É um cidadão pacato, de bons modos e que parece ser tranqüilo, afável e bem educado, mas se for avaliado por aquilo que tem ou está procurando para ampliar a sua coleção, as coisas tomam um outro aspecto. Talvez a aparente tranqüilidade do sujeito esconda um “Guevara” em potencial, que só espera uma oportunidade para começar a sua revolução particular. Pode ser que use escondido aquelas camisetas com a cara do "Tchê" estampada no peito ou uma boina de guerrilheiro cubano, com estrela vermelha e tudo. Sabe-se lá se não se ensaia em frente ao espelho do banheiro atitudes e comportamentos... Qualquer dia começa a cultivar uma barba e vais sair por aí com aquela cara de “pátria ou morte, venceremos” e pede asilo político em Cuba! Não se sabe. O que sei é que o sujeito viaja nas férias com todo o seu monumental aparato bélico, que inclui barraca militar para quinze indivíduos, rádio para comunicações á longa distância, pá e picareta para cavar trincheiras, lanternas de vários tipos e calibres, roupa de camuflagem para selva, facas, facões e canivetes, óculos para visão noturna, cantil, fogão de campanha, kit de ferramentas completo, boné militar e capacete de combate pois argumenta que nunca se sabe o que se pode encontrar, geladeira portátil para a cerveja que ninguém é de ferro e outros utensílios indispensáveis, tal como vários pares de botas e coturnos militares, além de uma cozinha de campanha completa e um banheiro químico portátil de uso exclusivo do Corpo de Fuzileiros Navais dos E.U.A., que conseguiu arrematar em um leilão de inservíveis da receita federal. Como o seu carro não comporta todo o equipamento, o homem resolveu dar um jeito e achou um caminhão militar da segunda guerra para transportar toda a tralha. Segundo ele, dá até para rebocar um canhão, o que diz que vai providenciar logo, pois segundo soube de fonte confiável, tem um cara em Panambi que consegue um novinho, de 180 mm, uma beleza! Na verdade, parece que não é só isso que ele quer: nas suas andanças por aí atrás de novos itens para a sua coleção, descobriu um tanque de guerra numa sucata em Canoas, e ficou empolgadíssimo. Só não adquiriu o bélico objeto para a sua coleção porque a esposa o confrontou com o clássico “Ou ele ou eu”. De nada adiantou argumentar que o artefato estava em plenas condições de uso e com condições de venda excepcionais, que tinha lugar na garagem, etc. Acabou se contentando em comprar alguns capacetes militares da segunda guerra e ficou de olho numa bazuca que estava em um canto, e que agora ocupa um lugar de destaque no seu museu, digo apartamento. A esposa confidenciou aos parentes que anda preocupada, pois acha que o marido anda muito estranho... Agora deu para cumprimentar os amigos com continência, caminha em passo-de-ganso pela casa, o despertador toca marchas militares e anda falando em voltar ao exército, de onde saiu como soldado raso faz uns trinta anos, mas só se for com a patente de General. A esposa também se queixou para as amigas que ele dorme de coturnos e uniforme de campanha, com uma espingarda ao lado da cama e granadas embaixo do travesseiro e suspeita que ele comprou o tal tanque, e que está montando a coisa aos poucos, escondido na garagem do prédio, pois anda chegando em casa muito tarde, com a roupa suja de graxa e cheirando á pólvora. Não fala mais em almoço e sim em “rancho” e agora diz que o salário é “soldo”. Além disso, passou a chamar os filhos de recrutas, a mulher de ordenança, o chefe de “meu comandante” e achou na internet um pessoal que que explica direitinho como se fabrica uma bomba atômica! Ultimamente declara-se admirador do Fidel e colocou uma foto do dito-cujo na parede do quarto do casal, junto com um pôster do “Che”,um exemplar autografado(falso) do Livro Vermelho de Mao Tse Tung e uma espada de oficial do N.PO.R., que comprou de um camelô no centro de Porto Alegre. Ando um pouco preocupado, pois anda prometendo me visitar assim que estiver de férias e quer saber se o meu “quartel” tem acomodações adequadas á um General e seu pelotão de operações especiais. Além disso, me recomendou aumentar o “rancho”! Acho melhor sumir por uns tempos, pois o sujeito diz que vem faer "manobras" em Livramento e que estou convidado desde já para fazer algumas marchas forçadas, coisa pouca, só uns dez quilômetros por dia.... Comentou de passagem que vai aproveitar as férias para dar um jeito neste tal de Uruguai, pois acha que estes castelhanos são muito metidos e precisam de uma lição de alguém com “cojones” que nem ele... Já mandei recado dizendo que por aqui o frio “tá de “renguear cusco” e que é melhor ele tirar as suas férias lá pela Bolívia ou na Faixa de Gaza que é mais interessante. Quem na Bósnia... Pelo sim e pelo não, já avisei que vou estar em Dom Pedrito durante as férias do sujeito...