De mundos

Gostava de conhecer mundos através de pessoas.

Porque precisava se achar em algum lugar, ela dizia.

Outro dia, conheceu Guiné-Bissau, através de Porfírio, quem muito se encantou por ela. Porfírio dizia que ela falava coisas de fazer rir. Ela achava que ele era que ria do que não se devia.

Num português bem consertado nas origens, Porfírio contava planos de lavá-la pra Bissau. Ela gostava: "lá parece mais com começo de mundo".

Uma vez, querendo saber das coisas de longe, ela perguntou se ele se entristecia. Porfírio respondeu nem que 'sim', nem que 'não', mas "um-hum", escondendo o rosto atrás do travesseiro, como se entristecer-se fosse coisa de se encabular.

Ela perguntava mais, de tudo: das alegrias, das crenças, de como se dói e por quê. Mas ela não soube, não soube nem porque ele fugia de responder. Eram sempre poucas as palavras que vinham dele. Ela até insistia: "fala, Porfírio, que eu me encontro no seu linguajar". Porfírio nem.

Na última vez em que se encontraram, numa tristeza de não se saber como, Porfírio disse:

– Parece que você não gosta mais de mim...

– Um-hum...

Não falaram em novamente: foram, cada um para um lado, ele entristecido; e ela, com um mundo a menos.

Cristina Carneiro
Enviado por Cristina Carneiro em 03/05/2007
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