Lágrimas do passado, brilho do futuro

Beatriz foi feliz ao colégio, hoje mais que os outros dias. Não fizemos nenhuma barganha com ela até porque a guria adora sua escola, porém vi os seus olhos brilharem, sua boca encher-se de vocábulos para agradecer e para arrumar o destino de cada componente dos materiais escolares. Compramos. Uma lista com ingredientes de uso coletivo e alguns individuais. Uma lista pequena em relação às muitas que já vi pelas escolas as quais ministrei aulas, mas dona de muitos detalhes.

Passeando pelas prateleiras, acompanhado da minha esposa Priscila, pude conferir o quão caro encontram-se os materiais escolares, alguns componentes que beiram ao absurdo em relação as suas taxas numéricas, outros que mesmo sendo utilizados abundantemente figuram entre os mais caros. É preciso ganhar muito para se manter um filho estudando (e ainda teremos a Valentina dentro de alguns anos estudando), mas é necessário, é vital, e digo isso não só enfatizando a necessidade da aquisição de conhecimentos fundamentais como matemática, português, história etc, porém a convivência com os demais, a busca de novos amigos, a exploração de novos lugares, o acesso a um campo desconhecido dantes nunca pisado ou imaginado. Quanta coisa não deve passar pela cabeça destes pequenos? E ainda caminhando entre os corredores repletos de materiais escolares lembrei-me do meu passado, dos meus primeiros anos escolares, da compra dos meus materiais...

Gostava muito dos lápis-de-cor, inspirado pela música “Aquarela” cantada pelo Toquinho numa propaganda da Faber Castel, mas sempre fui apaixonado pelas lapiseiras e canetas e não descartava um bloco de papel, adorava fazer anotações e depois escrever sobre aquilo que anotara. Ali começava a minha saga, a minha insistência em relatar o cotidiano, o meu contato com a crônica.

A primeira compra de materiais quem me fez foi minha avó Carmen, lá na Rua Sete de Setembro no MEC da Dona Catarina e do seu Ermildo Tiosso. Quanta saudade... A disponibilidade daquele casal, a sua atenção, o seu envolvimento, a habilidade para tirar das nossas mentes aquilo que desejávamos. Quantas compras não fizemos ali: meu ensino fundamental, médio, universidade, quando me tornei professor... Meus irmãos também tiveram seus materiais comprados ali, meus amigos e colegas, muitos moradores taquaritinguenses compraram os seus materiais escolares ali, naquela casa, naquele lar acolhedor, um ambiente que nos inspirava a comprar. Sinto saudades! Quando baixaram suas portas definitivamente senti um vazio, o chão cedeu. E os meus materiais? Mochilas, canetas, papéis não teriam a mesma qualidade que dantes, não seriam os mesmos, pois a marca daqueles estava naqueles senhores e sua filha Rita que não mediam esforços para nos atender.

Hoje faço o meu papel de pai, acompanho minha esposa na compra destes ingredientes escolares, pesquisamos aqui, acolá, mas os detalhes, o atendimento, o carinho e os preços de dantes não encontramos mais. Conto estes detalhes a minha filha Bia. Anoto ainda no meu bloquinho (que não foi comprado no MEC) e espero o próximo texto chegar. Os olhos de Bia brilham de felicidade e os meus avolumam-se em saudades...

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 18/03/2014
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