Climas

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O dia começa 6:30 da manhã com o céu anunciando uma tempestade que não veio. Assim, temos uma idéia falsa e já aproveito para inserir entre aspas o seguinte pensamento: “A idéia de que as ações promulgadas pela escuridão acabarão por levar a um resultado cheio de luz, é uma idéia falsa”.

Café da manhã = bananas. Três pratas médias e dá pra segurar a onda até não sei que horas.

Li uma entrevista muito boa de um artista musical paulistano no Estadão, essa semana. Seu nome: Criolo. Há um enxame de boas idéias ali, conteúdo absolutamente diverso das asneiras midiáticas cotidianas, cujos grandes “ohhs” versam sobre pratos de salada, cremes hidratantes, o vazio angustiante de pretensos artistas (a velha fórmula infalível: muito orgulho e pouco talento) ou a burrice (sem fim?!) dos politiqueiros. Há, com dizer, um pensar pulsando no cidadão Criolo, além do retrato de uma realidade, e esse retrato vem isento de bandeiras prós e contras. A vida como ela é, do ponto de vista dele, com honestidade no verbo.

Um troço (relativamente) novo e que já conseguiu se tornar insuportável aos meus sentidos encontra síntese nesse cabeçalho: “Novo cangaço leva terror a cidades - Grupos usam táticas de guerrilha”. Se isso ainda não for o fim da picada deve-se ao fato da linha divisória entre o fim e o início da picada mover-se com muita agilidade.

Leituras aqui e ali me contam uma história formidável. Imagine que num determinado ponto no tempo e no espaço só existiam médicos. Médicas não. E então uma moribunda, sofrendo terrivelmente do que mais tarde se supôs câncer no útero, segredou a uma amiga: meu tratamento teria sido mais confortável se tivesse sido ministrado por uma mulher. Ao ouvir aquilo a amiga ficou como que em transe e aventurou-se a desbravar esse caminho. Meus pensamentos voaram com essa informação, foram para algo tipo dois aliens num planeta estranho, hostil, eles precisam cuidar do seu equipamento (leia-se corpo) para sobreviver, mas o equipamento entra em pane e então...bom, faz-se necessário um semelhante para aliviar o fardo.

Almoço no quilo do francês às 11 e tal, já bolei um slogan para ele: cozinha internacional & preço de quilo. No Brasil desde a última década, mas sempre em contato com amigos e familiares no Velho Mundo, ele me conta que atualmente na Alemanha 20% da população habita a faixa do pró nazismo. Quase devolvi o café, involuntariamente, diante dessa informação. Não será para mim que você vai perguntar: para onde estamos indo? Não faço a menor idéia. Parece aquele tipo de coisa que, quando a gente fala, fica pior.

Mais leituras e descubro um sujeito bem interessante cujo nome completo me escapa. Lembro-me só de um pedaço: Channing. Nasceu em 1780, lutou para eliminar a embriaguez, a escravidão, a indigência e a guerra e caso isso não satisfaça, o próprio Allan Kardec, em “O Livro dos Médiuns”, inclui 3 mensagens atribuídas ao seu espírito.

Duas e pouco da tarde outra chuva faz um reclame sério no horizonte, um amigo me liga pra dizer que circula na internet a entrevista inédita(?) com o chefão da facção dizendo que, em linhas gerais, estamos fritos. Nisso, um alarme soou na minha cabeça. Ano passado foi pródigo em e-mails relatando as falcatruas tin tin por tin tin de uma grande estatal, dando detalhes e detalhes da coisa toda. Um ano depois isto está nas primeiras páginas dos jornais. Tin tin por tin tin. Foi quando eu pensei: bom, então estamos fritos mesmo.

Três da tarde e tem raríssimas nuvens no céu. Tipo uma piada. Qual será o número que ele irá fazer às 18? Segunda feira as nuvens diziam que iriam engolir a Vila Mariana numa única dentada e não caiu nem uma gotinha.

Ai, ai, muitas informações e percepções em curto período. Penso que a amizade é clarividente, o ego, parcial, a ganância é velha e a vida, uma sucessão de vidas.

Quatro da tarde. Nuvens e mais nuvens e tambores rufando lá em cima. Que coisa.

Buscadores Top atestam que sempre nos movemos para melhor, inda que, às vezes, brrrr, assim não se pareça. Dizem que caminhamos para dimensões mais lights, onde as lições não são vividas com sofrimento, mas com entendimento e gratidão.

Tomara.



(Imagem: Liliana Porter)






 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 20/03/2014
Reeditado em 24/04/2021
Código do texto: T4736758
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