Carta da Lua para uma Amante

Por que estou parada aqui? Já era para eu ter ido embora. Será que preciso que me olhe mais uma vez. Sei, eu gosto do jeito que me olhas e me visita de madrugada. Vejo-a como um ser humano na ansiedade de conseguir o que se quer.

E, estou aqui esperando por seus olhos vidrados. Ora cheia... Cheia de problemas, ora vazia... Vazia de lamentações, ora crescendo... Crescendo para os ensaios da vida, ora minguando... Minguando diante da enorme pequenez do mundo.

Sou como uma gota na imensidão. Sou o vestígio do que fui na madrugada aparecendo numa manhã quase nublada. E, o que fui pelas madrugadas? Eu fui a Rainha da Noite entre tantas estrelas, fui o seu motivo para chegar até a janela e me ver. Por quantas e quantas vezes banhei o seu corpo nu. Ah! Se soubesses o quanto eu a conheço talvez perdesse o encanto que tens por mim, porque na verdade não sou nada demais, se pensares bem sou apenas algo que parece cintilar.

Será que gostas de mim por minha determinação, pois venço os prédios e, quando desejo, escondo-me através das nuvens "tapando a cara" de vergonha diante da frieza dos seres humanos. Passo por tubulações, mas não desisto. Continuo aqui vendo mais de mil gerações crescerem e desaparecerem tão inexplicavelmente quanto surgiram.

Numa conversa com as estrelas descobri que foi Deus quem me fez e, que esse mesmo Deus fez você, então está explicado o porquê de nossa sintonia, né? Mas, ao mesmo tempo em que descobri essa coisa linda, também ouvi algo lamentável de uma estrela bem antiga. Ela soube que ensinam nas escolas que eu não possuo vida e que sou desprovida de qualquer coisa que possa valer a pena (deixa para lá, quem sou eu para discutir as idéias dos homens), a única coisa que sei é que realmente fico sem ar toda a vez que te vejo passando na rua.

É gratificante o quanto fico feliz quando diz para as pessoas que gosta de mim, sinto até que elas passam a me enxergar com outros olhos. Já notei que me paqueram, me esperam e, muitas vezes, choram quando você está longe. Queria ajudá-las, mas não posso, o máximo que posso fazer é demonstrar através de minhas fases que as coisas podem mudar. Acho até que elas me entendem, mas sentem-se perdidas com minha fraqueza, pois também encanto-me por sua beleza.

Já te vi muitas vezes chorando pela falta que seu pai lhe causa, por quanto tempo deve ter me xingado e xingado aos céus por tamanha tristeza e indagação. Nessas horas eu morria por dentro e por fora. Sei que não fui a causadora de sua dor, mas fui culpada por não ter mãos para secar suas lágrimas, nem o abraço para te acalentar. Deve ser por isso que sempre apareço cada vez mais bela, descobri assim que isso te comove. E, como é lindo o seu sorriso e a sombra de seu corpo refletido no chão. Queria muito ter pernas, não só para seguir seus passos, mas sim para caminhar ao seu lado.

Sou a sua lua, sua marca registrada, a mesma lua que enlouquece os amantes num espaço próximo ou distante. Sou o enigma das coisas que diz e não termina de dizer e isso me deixa submersa tentando entender suas mensagens, assim como os amantes tentam decifrar minhas figuras.

Sou a sua lua de sorte, sua visita mais desejada. Sou a testemunha do maior espetáculo da natureza: seu olhar me esperando!

Então, depois de milhões de anos de espera e de admiração em todas as suas reencarnações, acabei conhecendo uma estrela cadente bem doidinha que não parava de piscar. A tal da estrelinha disse que me ajudaria no que fosse necessário e me deu até a idéia de escrever-te, veja só! Ela foi para o seu planeta para aprender a escrever, a ler e a sentir amor, passou uns dias escondida vendo como você era dentro de casa, no trabalho, com os amigos, com as namoradas e familiares. Enfim, essas coisinhas que eu não conseguia ver. Aí, a estrelinha voltou cheia de história para contar. Disse até que você era bobo pra danar. Por isso, estou enviando a minha cartinha pelas mãos dela. Hoje a estrelinha virou um ser humano e está convivendo do seu lado e não me espantaria se ela dissesse que teria também se apaixonado.

Renata Mofati
Enviado por Renata Mofati em 03/05/2007
Código do texto: T473740