AMOR ELETRÔNICO

Para o quê evoluíram a paixão, o tesão e o orgasmo? Antes compreendiam cinco sentidos para serem alcançados e era tridimensional, multi geográfico e dependente de locomoção.

Agora não, agora é essa coisa estática, monótona e insípida. O local do sexo é sempre o mesmo: o ambiente onde está o computador. Profundidade visual só vai existir se você quiser aumentar ainda mais o número de coisas a envolver na relação e fazê-la ficar ainda mais desconfortável: um óculos para observação em 3D. O cheiro a impressionar o cérebro e despertar a libido será só o seu. Não há o do parceiro e nem tão pouco o da mistura do casal. Sabor terá se você colocar alguma pasta na tela do micro para lambuzá-la toda depois com a língua. Mas tem a mesma limitação do cheiro. Tato? Piorou. A audição aparentemente não sai perdendo, porém, quem não gosta de um sussurro que só repercute dentro dos tímpanos? Seguido de uma mordidinha no lóbulo da orelha, hein? Com beijos, trombadas, aquele sonzinho do vácuo... ops: não quero deixar de colocar o texto como seguro, espero que me compreenda!

Não haverá surpresa nenhuma. E nem porra nenhuma. Sexo eletrônico só serve para evitar concepção, reduzir população ou manter as pessoas em casa e fora dos perigos que os governos não conseguem controlar e que dão prejuízo. A intenção é essa. É claro: os motéis perdem. Vai ver eles são donos de provedores de acesso ou saites de encontros e a gente nem sabe! A Philips Morris não vai agora investir em cigarros eletrônicos? Adaptação aos novos mercados, amigo. Somos apenas peças de mercados.

O bom é que nada disso é amor. Isso é só sexo. Por isso que funciona durante algum tempo. Da mesma forma que a masturbação funciona. Tem até o mesmo problema: bate o senso de insuficiência, de solidão e de ridículo. Resultados da constatação de não ser capaz de sair para ir à luta e arrumar alguém. E mais: de não ser interessante para alguém. A tela do computador é que nem o papel: aceita qualquer um. Só a vaidade ganha, às vezes. Enquanto digitamos tudo que temos que fazer para ser a pessoa que gostaríamos de ser e não nos movemos para tal é saber escrever e ter informações para imaginá-la. Daí saem os "Sou um príncipe da Babilônia" e "Tenho tudo para ser a sua princesa".

Amor, se acontece eletronicamente, é até mais concebível de ser real. É, pois o amor necessita apenas que uma pessoa faça a outra imaginar e sentir-se bem. Não é verdade que se é acometido de amor só de olhar para alguém e ter produzida internamente a sensação de bem-estar? O tal do amor à primeira vista? O que acha que você sente quando escuta um palestrante dizer um monte de coisas que lhe abre a mente e lhe faz pensar condescendente? Não é tesão, é? Tesão pode até vir junto, mas é mais do que isso. Senão, uma pessoa casta e moralmente arraigada iria querer transar com o papa se o ouvir em uma palestra.

O amor é mais altruísta do que egoísta. Ele visa o outro. "Faça outro imaginar e se sentir bem". É diferente da masturbação, na qual se baseia no que o outro escreve ou exibe para se auto-estimular. O sexo interpessoal não tem isso, pois o toque já elimina a possibilidade de auto-estimulação: os amantes se veem obrigados ao estímulo involuntário. Só mesmo se não acontecer a tal da química entre os amantes é que esse estímulo repentino e espontâneo não vai acontecer. Por isso o amor eletrônico – conhecido eletronicamente – vale. Mas faça do meio apenas uma porta para o desenvolver, nunca deixe de o transportar para o meio real. Uma vez nele, tudo que se desejará é obsoletar o microcomputador. Não se precisará mais dele.

*Ofereço a você que solicitou o texto. Torço para que o leia.