IMAGEM - O ESTADO DE S. PAULO
 
A REVOLUÇÃO DE 1964 - 50 ANOS
 
E a revolução de 1964 – muitos a chamam de golpe militar – completou 50 anos. No dia 31 de março de 1964 as primeiras tropas militares saíram de Juiz de Fora (MG) em direção ao Rio de Janeiro já com o intuito de tomar o poder, depondo João Goulart, o popular Jango, que havia assumido após a renúncia do presidente Jânio Quadros. A ação teve o apoio irrestrito do governo norte-americano.
 
O primeiro presidente militar “eleito” foi o marechal Castelo Branco, que veio a falecer em 18/07/1967 num acidente aéreo nunca devidamente esclarecido nos inquéritos militares. Dizem que sua morte se deu pelo fato de ser contrário ao endurecimento do regime, quando foi obrigado a passar o comando do país ao general linha dura Artur da Costa e Silva, o segundo presidente. Depois deles vieram Emílio Garrastazu Médici e Ernesto Geisel, culminando com João Figueiredo, que foi o quinto e último deles na presidência do Brasil. O regime militar durou até 1985, quando Tancredo Neves foi eleito indiretamente – em disputa com Paulo Maluf – o primeiro presidente civil desde 1964.
 
Nos 21 anos da chamada “ditadura militar” muitas aberrações sociais ocorreram no país, com a morte de inocentes, entre eles, alguns jornalistas e estudantes, notadamente no ano de 1968, aquele que não terminou, segundo o escritor Zuenir Ventura. E foi em 1968 também que houve o famoso Congresso de Ibiúna, onde seria eleito o novo presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) e José Dirceu (ele mesmo) era um dos candidatos. Não houve congresso e muito menos eleições, pois os militares invadiram a fazenda onde se realizava o evento e prenderam todos que lá estavam. Não escapou ninguém, mas posso garantir que – ao contrário do que muitos dizem – não houve nenhuma morte naquela ação. Como posso garantir? Eu estava lá! Entre 1968 a 1975, foram os anos mais duros do regime militar, período que ficou conhecido como “anos de chumbo”.
 
A situação do Brasil na ocasião da tomada do poder pelos militares não era muito diferente daquela de hoje, onde havia o forte temor de que o Brasil poderia se transformar em uma ditadura socialista similar à praticada na Cuba, de Fidel. O país e sua economia estavam em frangalhos e a corrupção imperava em diversos setores. O anúncio sobre as desapropriações para a efetivação da reforma agrária, feito por Jango em 13 de março de 1964 no famoso Comício da Central do Brasil, no Rio, deixou pior aquilo que já estava ruim. Aí não teve mais como segurar.
 
E assim, de coisas boas e ruins, se passaram os 21 anos dos militares. Nesses 21 anos houve uma significativa recuperação da economia e taxas de crescimento que chegaram a 10% ao ano, constituindo o que se chamou milagre econômico, com entrada significativa de capitais externos, atraídos também pela estabilidade política. O aumento da dívida externa seria um problema a ser enfrentado posteriormente, assim como a crise do petróleo e a inflação elevadíssima, quando um mesmo produto tinha um preço pela manhã e à noite era reajustado. Uma obra fundamental, a ponte Rio-Niterói, é dessa época e o grande fiasco dos militares no que diz respeito às obras, foi a Transamazônica, rodovia no meio da floresta, que nunca chegou sequer a ter seu traçado completado e muito menos por lá chegou o asfaltamento.
 
Como disse acima, o Brasil de hoje não está muito diferente do Brasil daquela época. Acho até que está bem pior, com o aumento exponencial da violência, a impunidade, a justiça e a imprensa desacreditadas, a corrupção em todos os níveis, o gasto desmedido de dinheiro público, a saúde em forma de sucata, muitas rodovias federais em estado lastimável, as forças armadas falidas, a educação rolando ladeira abaixo e até a música enveredando pela incitação ao crime, principalmente contra os policiais.
 
Em vista disso, vê-se nas redes sociais, nas trocas de mensagens por e-mail e até em jornais e revistas (aqui de forma mais velada) um tipo de manifesto por uma intervenção militar no país. Assim como leio muita bobagem escrita por quem nem sabe direito o que aconteceu em 1964, e mesmo depois, acho uma insanidade pensar e trabalhar para que haja uma nova revolução. O que o Brasil precisa não é de um golpe militar, mas sim, de um estadista que consiga nos recolocar no caminho da retidão, do respeito internacional, da ordem e do progresso. O grande problema é que não temos alguém assim disposto a tentar assumir o cargo mais alto da nação. Pode-se notar que a cada nova eleição são sempre os mesmos caras-de-pau que se aventuram e, invariavelmente, um deles acaba levando o presente. E o país continua do mesmo jeito. O nosso maior problema não são os partidos políticos, mas sim aqueles que os compõem, e afirmo sem medo de errar, serem todos eles adubos orgânicos oriundos do mesmo saco.
 
O povo brasileiro não é politizado, não se importa muito com o seu destino e apenas tem olhos para seu próprio umbigo. Ele só se mexe quando lhe apertam os calos. Se nosso povo tivesse a bravura e o patriotismo que tem pelo futebol, também nas questões políticas, certamente seríamos um país mais justo, mais honesto e mais feliz.
 
 
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