UM CERTO FILÉ Á PARMEGIANA

UM CERTO FILÉ Á PARMEGIANA

FlávioMPinto

Existem momentos que deixam uma marca indelével nas nossas vidas. Atos e fatos que se destacam no cotidiano e demarcam períodos verdadeiramente históricos. Não esquecemos jamais, pois ficam gravados.

Em Resende havia um bar-Princesa do Vale, na Praça O.Botelho. Um típico pé-sujo com bancada em forma de U envidraçada e que só servia filés. De todo tipo: á milanesa, com fritas, sem fritas, a dorê , acebolado, a pé, a cavalo, uma variedade imensa. O meu favorito era o á parmegiana. Vinha servido numa travessinha inox oval sem acompanhamentos ou guarnições. Era único. Dois magníficos filés prensando uma porção generosa de presunto coberta por outra porção também generosa de queijo muzzarela e tudo envolvido com um molho de tomates simplesmente divino. Sempre vinha, minha preferência , acompanhado de uma valente cerveja preta Caracu.

Esse era o meu programa de toda sexta-feira á noite junto com o Reginaldo, Antonio Reginaldo Vargas da Costa, coronel da reserva , hoje causídico labutando ora em Porto Alegre ora em Florianópolis.

O fim de semana na Academia Militar das Agulhas Negras começava com o filé no Princesa do Vale e demarcava todo resto dos dias. Era sagrado. O filé preenchia todos os espaços gustativos por sua maciez e consistência. Nem sobremesa acompanhava para não destoar.

Me lembro de outra estória envolvendo o filé á parmegiana do Princesa do Vale. Estávamos em pleno exercício de Instrução Especial- o Fuga e evasão no 3ºano da AMAN. Lá pelas tantas, já a mais de um dia e noite fugindo das barreiras e patrulhas do inimigo, o Amauri-Amauri Soares Vieira Junior- já “pelas tabelas” não desejava mais prosseguir. Cansara e estava prestes a se entregar. Não preciso dizer que “fugimos”mais uns 50 Km, ora em estradas ora subindo e descendo morros e matas, e eu o convencendo que, se continuasse, lhe pagaria um filé á parmegiana que descrevia a cada hora a medida que o companheiro parecia se entregar ao cansaço.

Com a fome que estávamos, dias sem comer, apenas água dos córregos que cruzávamos, consegui fazer com que o Gansolino, como é conhecido o 40, a chegar no final da etapa. Sábado seguinte paguei a promessa e apresentei o filé ao amigo.

Voltei outras vezes á Resende e o Princesa do Vale na O.Botelho não existe mais. Ficou um vácuo na minha memória gustativa. Já rodei o Brasil e não encontrei um filé igual aquele. Sem dúvidas, era único.