Ao Espeto.
O Espeto se fora para o mesmo local em que se fora o Tiana Bicuda, o Leniti, o Paçoca, a menina Verinha e tantos outros, o fundo do Rio Grande, do lado do píer. As pessoas até fotografaram e postaram nas redes sociais o corpo do Espeto, esquálido como sempre, estático no fundo do rio, já como parte integrante da natureza morta.
Aquele lado do píer puxa as pessoas, afirmam os pescadores!
Diziam que o Espeto viera de Santos. De fato sempre usava uma camiseta do clube de futebol daquela cidade tão festiva. Ele também era uma festa. Gostava de pinga e cigarros diversos, gesticulava, esbravejava e quase sempre andava de chinelas e meio perdendo os sentidos pelas ruelas... atormentando os transeuntes. Tinha cara feia e passou algum tempo na cadeia.
Na infância jogou futebol, mas foi expulso da agremiação por entradas criminosas e reiteradas nos demais colegas de clube.
Naquela manhã, a fatídica, a manhã de seu último mergulho na Praia Artificial Ayrton Senna, Espeto passou em frente à loja de materiais de construção e ainda tirou uma onda com os que por lá trabalhavam:
“Ae, malokos, ‘a formiga só trabalha porque não sabe nada!”.
Tudo parecia tão artificial que até o céu, de tão azul, denotava que fora pintado por algum pintor matreiro e cansado, ancião de longas eras, enfastiado de ver os homens se afogarem em ilusões.
SAvok, À Espeto, 08.04.14.