O JURAMENTO

Não sei quais alterações acontecem na personalidade dos rapazes, quando se casam, mas por experiência posso garantir que quase todas as moças, quando se casam, gostam de “brincar” de doceiras e cozinheiras, fazendo quitutes e sobremesas irrecusáveis. Antigamente elas inauguravam os cadernos de receitas, depois começaram a consultar os livros de culinária, hoje elas acessam o youtube e aprendem o modus operandi de “gordices” deliciosas, recheadas com leite condensado ou creme de leite.

Então, daí a cinco anos, ele engorda uns cinco quilos e ela uns dez, principalmente se tiver tido filhos. Como o espelho não mente, ela corre para a academia ou compra uma esteira elétrica, ou uma bicicleta e vai pedalar, ou um par de tênis e vai caminhar. Enquanto isso ele vai.... jogar bola com os amigos e tomar cerveja, mesmo.

Comigo aconteceu quase isso, ao longo de 32 anos. Fiz tantas gostosuras para o meu marido, meus filhos e amigos, que engordei um quilo por cada ano de casada. Além disso, ao longo desse tempo, minha participação nos churrascos e festas para as quais sou convidada é intensa. Acha que eu deveria beber água e comer queijo branco ou alface nessas ocasiões? É ruim, hem!! Não dispenso um copo de “loira” super gelada e nem os nacos de picanha gordurosa! Depois disso tudo um docinho qualquer desce muito bem.

Sei tudo sobre os perigos da obesidade, mas quando alguém fala sobre o meu excesso de peso, eu faço piada dizendo uma dessas duas coisas: “Já casei!” ou “Fica tranquilo! Eu tenho a eternidade todinha para ser esquelética”. Brincadeiras à parte, a verdade é que, infelizmente, eu odeio exercícios físicos.

Nesse ponto peço desculpas ao meu queridíssimo amigo, André Leite Serafim, Coordenador do Curso de Educação Física da Faculdade Pitágoras de Linhares, e a todos os demais que gostam de sentir dor, suar e ficar ofegantes. Devo confessar: se dependesse de mim, todas as academias faliriam, e as esteiras, bicicletas e tênis nem teriam sido inventados.

Quis a vida, porém, que meu marido desenvolvesse diabetes tipo 2, cujo controle exige não apenas medicação específica e alimentação saudável, como também exercícios físicos regulares. Como não sei até que ponto a “ração” que eu lhe forneci nesse tempão em que dormimos e acordamos juntos é responsável por isso; tenho me levantado às 6 horas, todos os dias, e o acompanhado em caminhadas de 40 minutos no bairro Três Barras.

Como procuro encontrar prazer em tudo o que faço (por mais difícil que seja), caminho observando detalhes, pensando em quem deixou os despachos de macumba nos cruzamentos, imaginando se a Pomba Gira ficou feliz com os brincos, as rosas e o champagne barato que recebeu...., quais foram os pedidos indecentes que lhe fizeram...

Um pouco adiante, pergunto-me por que aquela senhora que mora em uma casona bonita deposita o lixo na rua e leva de volta o saco plástico que o continha... Concluo que deve ser por isso mesmo que ela conseguiu juntar dinheiro para ter uma casa bonitona, enquanto eu, que compro sacos resistentes na Embalin, separo os lixos secos e os doo para reciclagem, moro em uma casa “mais ou menos”.

Sigo cumprimentando todo mundo, inclusive o pessoal que odeia responder ao meu sonoro e alegre “BOM DIIIIA!!” Tem gente que me olha com espanto, outros só faltam me perguntar: “BOM DIA, POR QUÊ, K7?”,“EU TE CONHEÇO?”. Nem ligo, vou em frente... brinco com meu amigo Paulinho Coelho que pedala com vigor, cumprimento o velhinho que anda com um cacete na mão (Acho que é para espantar cachorro imaginário), a senhorinha que caminha toda tortinha, a gatinha que anda na ponta dos pés, a jovem senhora que caminha com uma saia sobre a bermuda...

Passo em frente ao fórum, rodeio o campinho e começo a ter vontade de correr para chegar logo ao final da pista, mas o excesso de peso e o fôlego curto de ex. fumante não me permitem. Então, respiro fundo e me conformo, contudo não deixo de pensar e não perco o bom humor.

Dia desses, em frente ao Cerimonial Le Pallace, eu me virei para o meu marido e lhe perguntei:

-Amor, você se lembra do meu juramento no dia do nosso casamento? Ele assentiu com a cabeça, eu prossegui:

- Eu disse que lhe seria fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando e respeitando você todos os dias de nossas vidas, não foi? Ele respondeu afirmativamente com sua “eloquência” peculiar. Eu continuei:

- Você se lembra se, por acaso, eu lhe prometi que iria caminhar com você todos os dias?

Ele já olhou rindo para mim, imaginando que eu lhe falaria uma besteira. Não deu outra! Olhei no fundo dos olhos dele e soltei:

- Viu como é grande o meu amor por você?

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 10/04/2014
Reeditado em 23/09/2014
Código do texto: T4763778
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