EU ACREDITO QUE AINDA VOU PARAR DE ACREDITAR

*O texto é grande, mas é magnético e vale a pena para refletir-se.

Nos braços do Sistema e para satisfazer a vontade dele, lá vou eu procurar emprego. Peno por causa disso. Dou fé que tenho que formar patrimônio, juntar capital, empreender, ser famoso e bem sucedido. Persigo esses princípios conforme a vida toda fui orientado. Eu acredito que preciso trabalhar para arcar com os meus compromissos e com a minha subsistência. Eu acredito que preciso de energia elétrica em casa, água encanada, a dispensa cheia de produtos de supermercados. Eu acredito que preciso ter uma moradia e que ela tem que ser mobiliada, equipada com diversos eletrodomésticos para eu me equiparar aos outros, aos que estão vivendo. Sem isso eu não estou vivendo. Desde criança eu vejo que a vida é assim, é difícil pensar nela de outra forma.

Eu acredito que eu preciso de um carro, do dinheiro do combustível, dos ingressos para o show ou para o futebol. Eu acredito que preciso torcer para algum clube; que tenho que de vez em quando ir a um bar tomar umas cervejas; que tenho que ir a escola e me formar em alguma profissão; que tenho que ver televisão, ouvir rádio, ler jornais; tenho que fazer turismo ou acompanhar alguns eventos. Eu admito que o homem precisa de lazer, cultura, se divertir. Acredito que esses fundamentos é que dão prazer. Nada mais. O sexo precisa disso para acontecer, do contrário não se tem sexo.

E o sexo, por falar nele, antes eu acreditava que era coisa de homem e mulher, mas agora querem que eu acredite que o certo é cada qual com seu igual. Que homens feitos podem se relacionar com crianças. Que padres podem casar e que prostitutas podem virar celebridade. Estou junto aos outros passando pelo processo de aceitação dessas ideias. Eu aguardo o momento em que coloquem também na minha cabeça que todos somos socialmente iguais e que não há diferença de raça, mas com isso ainda não estão preocupando, por isso tenho sido chamado de preconceituoso por alguém desses grupos que acha que eu me dirigi a ele com discriminação. Não preciso me apavorar quanto a perder minha liberdade por ser protegido de ninguém, pois o Sistema por enquanto ainda quer que isso funcione assim e eu não pagarei um pato. Se algum dia um negro ou um pobre ou um crente chegar realmente na primeira linha do Poder, aí sim, terei que ficar cabreiro. Mas é claro que então haverão de mudar-nos as crenças opressoras e posteriormente a atitude quanto a essa questão. Seremos reprogramados.

Eu tenho que saber ler. Eu tenho que ir a uma igreja e tenho que ter fé, acreditar em Deus e na vida eterna. Tenho que rezar para que ele, Deus ou Lúcifer, vai depender da minha crença, melhore minha vida, que não acontece como a dos outros que parecem estar tendo oportunidades e eu não. Não sei se é porque eles fazem tudo certo e eu ando falhando em alguma coisa ou se realmente existe segregação e para estar no meio melhor é preciso ter relação de amizade ou de parentesco com quem segrega. Eu acredito nessas coisas. E também na burocracia que as corroboram.

Eu sei que não se pode matar, enganar ou roubar pelo simples fato de ser impedido por normas estabelecidas por humanos e não pela natureza, embora a maioria delas eles atribuem a autoria ao Deus que eles mesmos criaram para que confiemos e aguardemos sua volta. São longos anos de crença em algum desses deuses por isso é forte demais a acepção para que eu possa simplesmente me rebelar. Tenho que respeitar os mais velhos e as convenções. Tenho que pedir a bênção, dizer "obrigado", "com licença" e "por favor". "Olá, senhorita, está muito bonita hoje".

Para mim existe uma comunidade científica e tudo que ela oficializa é que é a verdade sobre qualquer coisa e deve ganhar a minha aprovação mesmo eu não entendendo seus métodos para fazer parar nos livros científicos e didáticos cada coisa. Eu não duvido dos livros. Nem da mídia e nem que as pessoas são sempre boas e nunca favorecem a si ou a um grupo quando têm poder para iludir o povo com as credenciais, diplomas e prêmios que eles mesmos inventaram e expedem. Eu acredito nas invenções e no conforto que elas nos trazem. Não é possível viver sem elas, é antinatural. E lá fora, no espaço, eu acredito que seja tudo do jeito que falam, que o homem desceu até a Lua, eu nunca terei meios de ir até lá comprovar nada, mas eles estão certos, são eles que estabelecem e autenticam tudo o que devemos acreditar. Ser diferente é medir forças com um monstro gigante, o máximo que se pode fazer é ser indiferente e não tornar para si como importante o que não quer dizer nada para o nosso dia a dia. Mas até isso é difícil, tem campanha pesada pra não funcionar assim. Do contrário, nem o C14 ganharia credibilidade para provar a antiguidade dos achados e aí, meu, até a Bíblia estaria perdida. Até ela, que a Ciência faz questão de contestar. A ciência é tudo, assim como as escolas, as metodologias e a formação profissional. Deixem eles gastarem e ganharem dinheiro com a sustentação disso, eu colaborarei com a minha atenção.

Eu acredito que eu fico doente ou posso ficar. Acredito que doenças matam e eu, não sei porquê, creio que devo sempre lutar para me manter vivo. Sofro por causa disso. Eu acho que tenho que escovar os dentes toda manhã e após as refeições; que tenho que pentear os cabelos; que tenho que me vestir conforme a moda e tenho que votar nas eleições, senão posso ter prejuízo social ou ir preso. Eu acredito que viver na cadeia não é legal. E nem ser excluído da sociedade é. Eu acredito em instituições e confesso: sou institucionalizado.

Seria tão mais fácil se eu não acreditasse em nada disso, se eu apenas vivesse. Mas, o que é a vida senão o produto das nossas crenças? Crenças que nos incutem desde o nascimento, crenças que assimilamos por causa do meio no qual fomos despejados. Crenças que vêm da ponderação do Sistema, da Constituição Federal, do Código Penal. É óbvio que quem está por trás do Sistema não sustenta nenhuma dessas crenças. Nem flúor na água eles bebem. Eles sabem que não faz bem para os dentes e ainda faz mal para o resto do corpo. Faz é mal para a cabeça e é o que mais possibilita-me fisicamente a manter firme o que creio: que tudo o que dizem está certo e que sou uma gota d'água e tenho que aceitar quieto. É um dos meus controles.

A bem da verdade, os poderosos devem viver bem próximo do que vivia um homem paleolítico: dotado apenas das crenças naturais. Tipo: "o tempo fechou, vai chover". Vivem com a cabeça vazia, toda ela para pensar no que é importante para a existência e no que é natural. Ou no que se tem que fazer para continuar controlando os crentes no Sistema. O homem só precisa manter a cabeça concentrada em arranjar seu alimento, matar sua sede, respirar, se defender do tempo, dos inimigos e das adversidades. Nada de vida social, nada de família. Ter filhos apenas se acontecerem e cuidar deles o suficiente para que possam se virar no mundo sozinhos. Nós não somos diferentes dos outros animais. Esse conjunto de tarefas que nos obrigamos também é instituição e controle. Até os sentimentos que fabricam em nós e nos fazem desejá-los nos controla, incluindo o amor. Amor não é natural. Talvez ódio seja. Deus é amor? Claro, eles criaram Deus. Por enquanto ainda o pintam como um ser bondoso e cheio de amor. Temos que ver o quadro da forma que eles pintam se não quisermos ser excluídos.

E nem adianta querer, quem quebra o controle, como você provavelmente está quebrando agora, contaminar outros com as teorias que conheceu, eles sabem o que fazer para desacreditar quem faz isso. Eles dizem: "Teoria da Conspiração", "loucura" e matam tudo. Sem contar que lhe faltará espaço para se pronunciar. Tente publicar um livro e veja se terás retorno. Ou senão, use espaços gratuitos na internet e veja se vai ser lido. Se pagares irás ser, mas não conte que será fácil ou que será assimilado sem uma técnica de contra-ataque.

Mas eu tenho me esforçado e um dia hei de me libertar dessas crenças todas, de toda essa programação mental que embutiram em meu ser. Já me libertei, mas ainda não desagregarei, não encontrei a fórmula ou gente condescendente o bastante para fazer isso. E antes, programado é claro, eu achava que ermitões eram malucos porque viviam alheios a todas essas coisas que eu considerava importantes e inerentes ao ser humano. Hoje sei que até os monges que vivem em mosteiros, excluindo-se os limites da fé, que para mim é a prisão sistêmica deles, vivem melhor e mais independentes do que eu. Por isso têm muito mais chance de serem felizes. Coisa que eu acho que é o único objetivo da vida e que só conseguirei ser se eu estiver tendo satisfeitas as preocupações que foram em mim implantadas. Maldita lavagem cerebral, nada do que eu acredito é necessário ou diz a verdade e eu sustento porque não consigo escapar da crença. Escapar, na verdade, da necessidade de dividir a realidade com os ainda crentes no modelo de existência estabelecido, sem sofrer privação ou ação que confine a minha individualidade ainda mais.

Eu sou autor do livro "Contos de Verão: A casa da fantasia".

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