SESSENTA E CINCO ANOS

Prólogo

Nota do Autor: De forma proposital, para marcar outro iluminado e excelso evento (Aniversário de meu amado e querido neto Pedro Henrique Rodrigues Pereira de Souza), este texto foi escrito e publicado no Recanto das Letras um dia antes (12/04/2014) do autor completar sessenta e cinco anos de idade.

Ao ler este insulso texto alguns dos meus inúmeros leitores poderão pensar e/ou dizer: “Ah! O velho misantropo está tendo uma crise existencialista. De tanto refletir sobre si mesmo e se olhar nos inúmeros espelhos de sua fortaleza, o narcisista deu-se conta de que o tempo é inexorável.". Não. Não é por essa razão que hoje resolvi escrever sobre o tema ora em comento.

Paulo Coelho escreveu um livro sob o tema “Onze minutos”. Nesse compêndio ele asseverou:

“Quando estamos entre quatro paredes, terminamos por nos descobrir como animais assustados, inseguros, frágeis. O que deveria ser um momento mágico se transforma em um ato de culpa, de achar-se sempre aquém das expectativas dos outros. Esquecemos que esta é uma das poucas situações na vida em que a palavra ‘expectativa’ precisa ser banida por completo. O encontro físico de dois corpos é mais que uma simples resposta a certos estímulos carnais ou ao instinto de perpetuação da espécie. Na verdade, ele carrega consigo toda a carga cultural da humanidade.” – (Paulo Coelho).

Em “Onze minutos”, Paulo Coelho explora o tema do sexo e cria um conto de fadas moderno, melancólico e sensual, que narra a transformação de uma mulher em busca de si mesma. Maria, uma jovem nordestina desiludida com o amor, sai de casa à procura de aventura e paixões, e é na Suíça, como prostituta, que encontra as respostas para suas perguntas mais profundas. Baseado em fatos reais, o romance parte da banalização do amor e do sexo para nos fazer refletir sobre a natureza humana e a liberdade de sermos nós mesmos.

Há quem jure ser o livro de Paulo Coelho uma epopeia, mas, há, também, os que acreditam na corporificação do autor em onze minutos de transe, talvez histérico, quando ele se encontrava num estado, causado por euforia ou angústia. Esse transe de pena e de saudade acontece quando a pessoa assume um comportamento anormal. Ora, ora, ora... Quem ousa definir a palavra normal?

Normal é o que não foge, em termos de comportamento, à regra da maioria das pessoas, mas, Eu fujo, Tu foges, ele (ela) foge, nós fugimos, vós fugis, eles (elas) fogem. Portanto: Ninguém poderá dizer com absoluta certeza o que é normal ou anormal em algum momento de nossas vidas.

O AUTOR – EU DESPRETENSIOSO

Despretensioso, Eu sempre quis escrever algo sobre mim mesmo, sem a perturbação psíquica caracterizada pelo desenvolvimento de delírio com temática predominantemente persecutória cuja construção, embora lógica, se baseia em premissas falsas, e em que estão ausentes as alucinações e a evolução para um estado de demência. Claro que para escrever algo tão real Eu deveria esquecer a ficção, o simbolismo e as comparações metafóricas com o surreal.

Depois dessa explicação difusa, para alguns, pela primeira vez em minha longa vida de aprendiz da ciência epistolar, dei início ao texto já com o tema e contexto formatados.

NASCIMENTO, INFÂNCIA, ADOLESCÊNCIA E MAIORIDADE

NASCIMENTO

Passa depressa, muito rápido passa o inexorável tempo! Parece que foi ontem: 28 de março de 1949 – Horário impreciso: Segundo informação de minha mamãe Júlia foi naquela segunda-feira que nasci. Contudo, à época, por ignorância, desídia ou falta de tempo papai Muniz só registrou o meu nascimento em 13 de abril do mesmo ano.

13 de abril de 1949 – Horário expresso sem clareza: Essa foi a data escolhida para a comemoração de meu nascimento, segundo o registro oficial em Cartório de Registros Públicos da cidade de Campina Grande/PB. Posso concluir que já iniciei minha peregrinação terrena com um erro na data de meu nascimento.

Hoje, véspera dos meus sessenta e cinco anos de idade posso dizer que Eu gostaria de ser perfeito. Não sou. Não consigo ser a essência da perfeição não apenas por ser humano, mas principalmente por ser um anarquista que só enxerga o caos e a desordem nas normas preestabelecidas pelos seres humanos quase sempre desumanos.

INFÂNCIA

Depois de completar um ano de sobrevida (Tive o prolongamento da vida além de uma febre reumática (fato crucial) que quase me causou uma paralisia da perna esquerda). Segundo mamãe Júlia fui curado graças a um milagre atribuído a São Severino dos Ramos, pois houvera minha mãe feito uma promessa para o milagreiro à época de minha parcial paralisia.

A história de São Severino é incerta, porém, é fruto e símbolo da fé do povo nordestino. Acredita-se que ele nasceu e morreu no século V. Era um rico cidadão romano que doou seus bens materiais para os pobres e iniciou uma vida monástica no Egito e Síria, realizando milagres através de suas orações. Anos depois de sua morte, seu corpo foi translado para Nápoles, onde o grande monastério Beneditino de são Severino foi construído para ser o santuário das suas relíquias.

O santuário em homenagem a São Severino dos Ramos está localizado na Capela de Nossa Senhora da Luz, hoje mais conhecida como Igreja de São Severino, nas terras do antigo engenho Ramos, situado em Paudalho/PE. Datam de meados do século XIX, os primeiros relatos de milagres atribuídos a São Severino, que passou a ser chamado de São Severino dos Ramos, por ser localizado no Engenho Ramos.

Não me lembro de quantos anos Eu tinha, mas certa madrugada, sob o frio intenso de uma madrugada chuvosa, de dentro de uma rede puída pelo uso e constantes lavadas, Eu disse como um vagido de cordeiro: “Mamãe, minha perna está se bulindo...”.

Naquela abençoada madrugada o alarido em nossa humilde morada foi generalizado. Toda a vizinhança queria saber do que se tratava. "O filho de D. Júlia esta andando..." – diziam alguns. "Qual remédio ele usava?" – perguntavam outros. O certo é que de fato Eu estava, antes com a perna esquerda sem vida, mas agora andando da noite para o dia e todos estavam felizes com a crença no suposto milagre.

Tendo como anexo uma edificação chamada casa dos milagres, destinada à exposição dos Ex-Votos (Votos realizados), o santuário de São Severino dos Ramos é hoje o maior centro de romaria de Pernambuco e terceiro maior do Brasil. Nesse local há (Deve haver) uma perna esquerda de gesso, minha, que mamãe depositou como pagamento da promessa feita a São Severino dos Ramos.

ADOLESCÊNCIA

Fui moleque, atrevido, folgado. Andava com um estilingue pendurado no pescoço e um bornal com pequenas pedras como se fossem munições. Quebrava vidraças e lâmpadas dos postes. Tomava banho no açude de Bodocongo (Por isso levava surras homéricas de mamãe Júlia sempre zelosa); brincava de triângulo (Gude) com bolas de vidro; jogava barra a barra com bolas de meias que Eu mesmo fazia com maestria; jogava peão e castanhas, e a moeda corrente eram carteiras de cigarros abertas e preparadas à guisa de cédulas. Mamãe e papai não sabiam da maioria dessas travessuras.

Quando Eu estava prestes a ingressar na maioridade e antes de me apresentar para a prestação do serviço militar inicial obrigatório, com o propósito de receber a Certificado de Reservista de 1ª Classe, pratiquei halterofilismo e luta-livre. Esses esportes deixaram-me forte. Tornei-me intimorato e aguerrido. Creio, mesmo, que fui escolhido para servir à Pátria dado o meu porte físico atlético e vivaz, com flexibilidade a olhos vistos.

Mas nem tudo eram flores, molecagens e castigos físicos. Dos meus avós, paternos e maternos, assim como dos meus pais, aprendi definições importantes. Por eles fui preparado para exercer a cidadania, enfrentar a maioridade com o garbo proporcionado por excelsas lições. Claro que eles não me ensinavam com as palavras rebuscadas dos intelectuais, mas com a simplicidade de suas falas diziam-me:

Autodegradação – A autodegradação torna-se uma segunda natureza, isto é, começa a fazer parte de nossas vidas, quando começamos a descuidar de nossa aparência: Alimentação, dentes, pele, cabelos, prática de exercícios regulares, vestuário. Geralmente nem notamos que estamos nos colocando em posição inferior quando somos negligentes com o nosso corpo físico.

Profissão e sucesso – Nem sempre andam ladeando o profissional especializado. Para ser um profissional de sucesso é necessário ser eclético, empreendedor, intimorato, ousado e investir numa formação diversificada.

Sabedoria – Respeitar as opiniões alheias, aceitar que há muito a ser aprendido sem se acomodar com o sofrimento do aprendizado é, antes de tudo, o primeiro pequeno passo rumo ao autoconhecimento.

Morte – Do alto de seu trono, silente, ela observa a todos. Não se veste como a imaginam. Sua clâmide não é negra, mas sim escarlate com variações de um amarelo-ouro estonteante. Às vezes esse dourado lampeja, mas não emite calor. A mitologia representa esse ser temido por um esqueleto humano armado de uma foice.

Vida – No contexto da metafísica a vida é um processo contínuo de relacionamentos. Há quem diga e acredite na repetição (refrão) dos antigos: “enquanto houver vida há esperança”. Entendo que no espaço de tempo entre a concepção e a morte de um organismo há mais provação do que propriamente vida de boa qualidade.

MAIORIDADE

Ao atingir a maioridade recebi outros ensinamentos dos meus orientadores já desencarnados (Pais e avós):

Provação – Não é apenas prova, aperto, risco; perigo. Extremamente necessária para o aprendizado, tornamo-nos dignos de louvores, sem presunção, quando aceitamos provação como uma beatitude.

Mulher – Converta o mundo em um oásis, em que pesem as dificuldades existenciais, com a realização dos anseios e mais loucos sonhos obsessivos... Mas se desse paraíso imaginado não fizeres constar a sublime tenuidade, doce e acrisolada presença da mulher... Perceberás que esse mundo idealizado será vil, um ermo melancólico, insulso, trivial, sem cor; choro plangente, convulso, inconsolável pranto mudo onde os deleites serão apenas o prelúdio do abandono, desalento mórbido, tédio crescente, nefasto e do sofrido desamor.

O amor – Tem múltiplos significados na língua portuguesa e muitas facetas incompreendidas. Pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação, atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo. Grosso modo é a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objeto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e enviar os estímulos sensoriais e psicológicos necessários para a sua manutenção e motivação.

Traição e deslealdade – Traição e deslealdade são diferentes e incompatíveis, sendo aquela o rompimento ou violação da presunção do contrato social e esta a falta de amor, respeito, amizade sincera e consideração ao próximo.

Vingança – É pouco conhecida por vindita, mas a essência do mal que causa ao espírito do vingador assemelha-se ao atraso de um espírito amargurado pela involução.

Superação – É a força incomum enaltecida pela perseverança.

Hipocrisia – É a perfídia que mascara a honestidade verdadeira.

O ódio – Esse sentimento mesquinho, forte aversão a algo ou alguém, produzido por medo, ofensa sofrida, inveja, ofende mais ao seu detentor do que a vítima dessa ignóbil vileza.

COMPLETAREI SESSENTA E CINCO ANOS, MAS, ENVELHECI COM DIGNIDADE

Não faz muito tempo ouvi de um jovem (42 anos) as seguintes palavras:

"Tenho uma esposa dedicada e mãe exemplar; uma amante nova, linda e discreta; um emprego fixo com salário justo; carro do ano; uma boa saúde... Mas estou sempre me sentindo inútil e desnecessário. Há algo errado comigo professor?".

Sim. Respondi incontinenti. Há algo de muito errado com a maioria das pessoas jovens, saudáveis e que se dizem satisfeitas com suas conquistas materiais. A perda da autoestima está acontecendo com a maioria dos humanos. Enquanto os idosos se sublimam os jovens se degradam na autodestruição e improficiência.

Para ler mais sobre o texto “Feliz Vida Nova para os velhos” o leitor curioso deverá acessar o endereço:

http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/4612705

No endereço supracitado meus notáveis leitores poderão entender o porquê de Eu afirmar que ENVELHECI COM DIGNIDADE! Muito recomendo este texto para todos os que acreditam ou não na inexorabilidade do tempo. Não basta, ao completar sessenta e cinco anos de idade, procurar e exigir seus direitos constitucionais (Vide art. 230, §§ 1º e 2º, da CF/88).

Aviso para não acreditarem cegamente no artigo 230, constitucional, e seus dois parágrafos citados! Nos lares, asilos, manicômios, ruas e vielas há muitos idosos abandonados por seus familiares, amigos, e, pelo próprio Estado!

CONCLUSÃO

Enfim, posso complementar escrevendo o básico e trivial ensinamento de que o envelhecimento ativo deve ser composto NÃO APENAS de atividade física adequada à idade e estrutura óssea, alimentação saudável e atividade cognitiva. Nós idosos não precisamos praticar o salto livre como o paraquedismo, “snow board”, voo livre, balonismo, asa-delta, esqui, canoagem, motocross, entre outras, todas próprias para pessoas mais jovens e/ou irreverentes.

Atividades culturais tem tudo a ver com envelhecimento ativo. E, dentre as atividades culturais quero sugerir e enaltecer: Viagens, prática de esportes adequados à idade, o teatro, o cinema, a música, a dança, o estudo diversificado de outros idiomas, as boas leituras e a escrita como sempre faço e também por ser instigado a fazê-lo.

Faço isso e concito meus diletos leitores a fazê-lo. É por isso que posso até gritar se preciso for: COMPLETAREI AMANHÃ (13/04/2014) SESSENTA E CINCO ANOS DE IDADE, MAS, COM A CERTEZA DE QUE ENVELHECI COM DIGNIDADE!