A MÚSICA, OS PENSAMENTOS E AS AÇÕES

A MÚSICA, OS PENSAMENTOS E AS AÇÕES

Jorge Linhaça

Por mais inocente que possa parecer o ato de ouvir música e o de dançar e, por mais que as músicas sejam manifestações culturais, é importante sabermos selecionar o que ouvimos, pois, a música tem a propriedade de fixar-se em nossa mente com uma intensidade muito maior que qualquer fala. Aliás, a nossa memória se apega mais ao ritmo do que à fala. Não é por acaso, portanto, que maus músicos e péssimos letristas se aproveitem, consciente ou inconscientemente, de um ritmo contagiante para passar mensagens no mínimo de mau gosto.

Quando uma letra de música apregoa uma apologia à criminalidade e /ou à imoralidade e é exaustivamente reproduzida por todo o tipo de mídia, inclusive na televisão, onde apresentadores pagos por gravadoras as colocam como sucessos nacionais e internacionais, cria-se uma bola de neve que afeta, em especial, mas não exclusivamente, à juventude de nosso país.

Por mais clichê que possa parecer, a juventude é o futuro da sociedade, pois são os valores que criamos em nossos filhos que serão os catalizadores do que acontecerá no futuro.

Ao bombardearmos a mente de nossos jovens com informações de que tudo é lícito e que nada é condenável, que o que importa é “aproveitar o momento” e que isso não lhes trará consequências futuras, estamos compactuando com uma desagregação social que tem por fruto a violência, a criminalidade a ociosidade.

Claro que isso não se deu da noite para o dia, que as atitudes de nossa juventude têm muito à ver com nossas próprias escolhas passadas e presentes. Tudo vem sendo trabalhado passo a passo, para parecer cada vez mais natural e invertendo os valores sociais e morais.

O sexo, que antigamente era algo sagrado, para ser restrito ao seio da intimidade do casal, foi pouco a pouco se tornando aceitável fora do lar (embora a prostituição sempre tenha existido) e hoje é tão fácil de ser conseguido que a família deixou de ser desejável para muitos.

Se, em tempos passados, os jovens eram incentivados a assumir as responsabilidades por seus atos e até mesmo casarem-se quando buscavam o prazer sexual de maneira irresponsável, hoje são os próprios pais que os estimulam , direta ou indiretamente, esse tipo de comportamento, com a desculpa de que o sexo é parte importante da vida e que não há nenhum mal na promiscuidade.

O que os levou a esse tipo de conclusão? Terão sido seus próprios atos passados? Terá sido a constante propaganda que promete recompensas sexuais quando se consome este ou aquele produto? Será fruto das músicas insinuantes que, se antigamente usavam o duplo sentido como atrativo, hoje em dia falam, explicitamente, inclusive com coreografias acintosas sobre as “maravilhas” de beijar na boca e outras coisas mais?

A música sempre serviu para expressar sentimentos de amor, de paz, de adoração ou mesmo transmitir mensagens políticas de liberdade. No entanto, nos dias de hoje, grande parte da música produzida, com o intuito de uma fama rápida e enriquecimento financeiro, parece não ter outro objetivo senão o de transformar a sociedade me um imenso bordel. E o pior de tudo isso, sob os olhos condescendentes de pais e autoridades.

Enquanto isso a música de boa qualidade jaz enterrada sob os escombros de uma sociedade absolutamente permissiva e indolente, alheia às causas e consequências de sua passividade.

Nesta vida colhe-se o que plantamos, ou pior ainda, aquilo que os outros plantam e, se não tomamos providencias em relação aos nossos filhos e familiares, colheremos apenas as tempestades em forma de violência e revolta.

Hoje em dia está em voga “um tal” de “Funk ostentação” cujas letras remetem a todo tipo de consumismo e necessidade de utilizar qualquer meio para atingir seus objetivos, vendendo a imagem de que o sucesso pessoal está preso e atrelado à total irresponsabilidade pelos seus atos, transformando nosso filhos e filhas em miseráveis prostitutos e prostitutas, dispostos a entregar seus corpos e suas almas em troca de alguns momentos de prazer e ostentação.

Pessimista? Exagerado? Não sei, só sei que não adianta nada o discurso do “eu me garanto, não vou ser influenciado por esta ou aquela música!” Balela, ainda que seja verdade em algum caso muito raro, mas muiiiito raro mesmo, o simples fato de aceitar ouvir tais tolices já denota, no mínimo, uma absoluta falta de bom gosto.

Afinal, uma boa música não precisa expor corpos desnudos, não precisa de apelo sexual de nenhuma espécie para ser apreciada. Uma boa música é boa por si mesma, fala de amor, de alegria, de dor, de fantasia, de realidade. Não precisa falar de luxuria de permissividade, de ostentação ou fazer apologia à degradação social.

As músicas que ouvimos determinam muito daquilo que somos, são capazes de nos elevar ou de nos rebaixar intelectual, social e moralmente. Isso sem falar na questão espiritual. As mensagens embutidas nas letras e/ou nas melodias fixam-se em nossas mentes quer o percebamos ou não. No entanto cabe a cada um de nós fazer sua própria escolha. Se não podemos evitar ouvir certas aberrações musicais, podemos escolher contrabalança-las com músicas de qualidade, podemos memorizar uma boa letra, ou mesmo um hino de igreja, para resgatá-lo de nossa memória sempre que nos sentirmos atingidos pelo bombardeio incessante daquilo que em nada nos acrescenta.

Gosto, cada um tem o seu, é verdade, há quem goste dos olhos e há quem goste da remela...

Mas independente do gosto, não podemos fugir das consequências de nossas escolhas, por mais que tentemos nos enganar dizendo que os tempos mudaram e que “precisamos nos adequar” ao que é novo. Puro sofisma!