A DESPENSA

A qualquer tempo, especialmente nestes dias santos, dá-se como desjejum o que há em cada despensa interior. Da fartura ou de parcos mantimentos nela estocados, partilha-se quantidade e qualidade do que se tem. A soma do acumulado é peso e medida do que se dá e do que se é.

Saindo dessa indeterminação vê-se o sujeito, a quem lhe fora dito: “Onde está o teu tesouro, aí está o teu coração”. (Mt 6, 21) O ego se posiciona em primeira pessoa e, referindo-se à terceira diz: “Cada qual dá o que tem”. Material ou espiritual, cada qual retira da própria despensa o que dá, reparte ou, escondendo, nega. É substancial esta metáfora. Cada qual dá o que tem conforme o coração se manifesta. E cada oferta, conforme a intenção, tem o preço da moeda de troca, como as 30 de prata com as quais Judas negociou Jesus.

Nosso é um todo indefinido e ilimitado no sentido da doação e da partilha. O “Eu” é individualista; por isso, conforme o interesse, qualidade e quantidade do que tem, escolhe o que dá e a quem dá, conforme lhe nutre o instinto.

O Filho do Homem, que se deu a todos por todos, disse Pai Nosso. Cada qual, feito à semelhança d’Ele, o chama Meu Pai. E já ninguém sabe, como os primeiros cristãos, distribuir os próprios bens em comum. (At 2,44).

Contudo, cada qual dá, sim, alguma coisa. Algo que está em excesso ou mesmo em carência, conforme armazenou na própria despensa e o coração dispensa.
LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 17/04/2014
Reeditado em 17/04/2014
Código do texto: T4772356
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