Arroz-doce

- Mãe, tô com fome.

- Calma, fio, essa semana eu devo recebê. A dona tratô certeza.

- E se ela num pagá, mãe?

- Aguarda, ué! Fazê o quê? Aguarda...

Juninho, neste momento, estava ansioso. Queria falar algo à mãe, mas sentia-se impedido já por medo da reprovação.

- Que é isso, menino? Vai consegui fazê um buraco no chão de tanto andá pra lá e pra cá!

- Mãe...

- Humm??

- Quero ir pra escola hoje.

- Hoje não. Tá caindo um toró de água lá fora, ocê não tem veste nem calçado e ainda tem que me ajudá cum essas ropa qui vô entregá amanhã logo bem cedo.

Mas o menino, mesmo ajudando sua mãe, continuava inquieto. Pensava na escola. Não necessariamente nos colegas, nos professores... mas desejava ardentemente estar na escola naquele momento.

- Ô mãe, e quando o Zé chegá?

- Quê que tem?

- Eu num queria tá aqui não...

- Por quê?

- Por nada...

E saiu cabisbaixo, com uma lágrima atrevida a saltar-lhe dos olhos, como que revivendo a opressão que a violente figura do Zé lhe causava... Mas não quis comentar nada, a mãe já tinha coisas demais com que se preocupar! E esta, sem perceber a angústia do filho disse que o Zé não viria para casa esta semana, depois do dinheiro que havia levado embora... talvez ficasse pelos bares, pelas farras “torrando” seu dinheiro tão suado, tão sofrido.

Em alguns instantes Juninho voltou:

- Mãe, acabei aquele monte de roupa. Tá tudo dobrado... – e meio desconfiado, continuou - Peguei o chinelo do Cezinha... Posso ir pr’escola?

- Já num disse que não? Que aflição é essa?

- Nada, mãe... só quero.

- Nunca qué ir estudá e agora fica nessa agonia.

- Posso?

- Então, fala: quê que ta acontecendo? Porque o desespero? Anda, fala menino!

- Sabe, mãe... é que de sexta-feira tem arroz-doce!

Renata Lopes
Enviado por Renata Lopes em 06/05/2007
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