Homens Mulheres e suas “Coisas”

Era uma vez...

Ah! Era uma vez em um tempo onde as coisas entre homens e mulheres eram muito, muito, muito diferentes. Havia coisas de homens e coisas de mulheres.

Os homens só conversavam entre si coisas de homens e as mulheres de igual modo, só coisas de mulheres – entre elas e elas só.

Um não tocava, mencionava, via – fingia não ver – ou falava coisas do outro, que lhes fossem da mais profunda intimidade. Reinos distintos.

No quarto dos filhos e irmãos só assuntos masculinos e coisas pertinentes aos rapazes. Assuntos do mundo macho. Debaixo das camas, às escondidas, revistas pornográficas ou como se dizia na época: “revistas de mulheres peladas” – era assim que os irmãos mais velhos iniciavam os mais novos na vida sexual.

Nos aposentos das filhas e irmãs só coisas femininas e revistas de moda. Às escondidas – para as mães e avós não verem – fotonovelas.

Tudo no escondido, mas todos sabiam que “as coisas” dos dois gêneros estavam lá. Ou melhor, dos dois sexos.

E tudo era tão rigorosamente guardado e estruturado dentro dos limites impostos. Até as conversas eram em códigos: “Estou naqueles dias”; “Bandeira Vermelha!”

E eles... “Que isto menino! Tira a mão daí senão ela vai cair!” “Deus vai te castigar!” Elas: irmãs, mães e avós advertiam os pobres garotos.

Interessante era o dia em que elas tiravam para lavar suas roupas íntimas – os homens adultos estavam no trabalho. O varal denunciava paninhos, toalhinhas, “calcinhas”... e o que elas chamavam de “V8”.

Tudo seguia uma regra. Elas entravam em regras.

Surgiram os absorventes femininos, sumiram dos varais os paninhos e toalhinhas.

Apareceu o lingerie e consumiram com as calçolas feitas em casa de pano de algodão comprado nas fábricas de tecido da cidade.

Acabaram-se as ceroulas por sua vez e a samba-canção. Surgiram as cuecas de malha de todos os tipos e modelos.

Estar de regras ou naqueles dias ou de bandeira vermelha, já se diz às claras: é estar menstruadas.

Estamos no século XXI que nem mais se grafa assim como requer a norma culta. Escreve-se mesmo é 21.

Mesmo com todas as mudanças ocorridas e quebras de tabus, qual não foi o meu espanto.

Entrei na farmácia para comprar determinado medicamento. Eu vi sobre o balcão a propaganda de um produto e vi que atendia às necessidades masculinas. Pensei até que se tratava de um novo desodorante. E aí perguntei à atendente:

- O que é isto?

Ela ficou vermelha de vergonha e disse:

- O senhor pode levar e ler em casa.

Eu fiz deste modo. Eu levei e fui ler para me inteirar do que se tratava.

É um medicamento novo de reposição hormonal masculino. Ou seja, testosterona aplicada em forma de desodorante.

Esta era a vergonha daquela atendente: dizer “testosterona” para senhores acima de 50 anos com baixo nível deste hormônio no organismo.

Com tanto modernismo e liberdades ainda há pessoas com tabus em dizer “coisas do mundo” do gênero oposto.

Gênero oposto? Ou gêneros diferentes? Não é sexo diferente que se diz não? Não, depois do “unissex” dos anos 70 e 80 tudo virou “Coisa de Gênero”.

A humanidade e seus pudores!

Os homens, mulheres e suas coisas.

Leonardo Lisbôa

Barbacena, 18/04/2014.

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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 18/04/2014
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