E o Amor?

Certa manhã, Aline acordou como se mordida por um animalzinho. Abriu os olhos. Não vira nada. Voltou a dormir. Sete horas, o relógio toca, Aline acorda com uma sensação estranha, uma mistura de vazio, um anseio pela verdade. Mas que verdade? Levanta-se, penteia os cabelos e caminha altamente desconfiada até a cozinha. "O que está acontecendo comigo?", se pergunta. Assim, sem perceber, involuntariamente, depois de beijar seu pai, pergunta a ele o que é o Amor. Seu pai, com aquele jeito sério, diz que o amor é um sentimento construído pelo tempo, que faz com que as pessoas sintam-se bem juntas e tratem-se com carinho e respeito.

Ainda insatisfeita com a resposta, Aline se arruma para dar início a mais um dia de estudo e trabalho. Recebe um sms dizendo "Bom dia", e então, mais uma vez, levada pela curiosidade pergunta ao amigo o que é o amor. Altamente racional, ele lhe responde que o amor é uma reação química. Resultado do instinto humano. Em um grupo do Whatsapp, seus amigos argumentam que o amor é mera construção social, resultado da necessidade do ser humano de viver em grupo, talvez uma justificativa para tornar o homem superior aos animais, que agem por mero instinto.

Sonhadora e um pouco romântica, Aline não se conforma com a ideia de amor construído ou instintivo, não é isso o que acontece nos romances em que lê. Discute com suas amigas da faculdade, e impulsivamente, vira-se para o garoto na mesa ao lado e pergunta "Fernando, você acredita em Amor? Amor numa concepção metafísica." Para sua surpresa, o garoto diz que sim, e assume que por mais amor que possa sentir por outras pessoas, sempre vai amar aquela garota especial que mudou o jeito dele ver a vida. Num mesmo tom romântico, uma colega de sala conta que teve sim um amor único, e que, mesmo não podendo estar com ele, sempre o amaria.

Em casa, no fim de tarde, ouve de sua mãe que há sim um amor sui generis, um amor diferente, que transforma a vida das pessoas para sempre. Não necessariamente um amor concreto, as vezes apenas platônico, mas que perdura até o fim da nossa existência.

São 10 horas, Aline deita sua cabeça no travesseiro e mal consegue organizar seus pensamentos. E para ela, o que seria o amor? Talvez apenas instinto. Quem sabe uma bela construção social. Talvez convivência. Talvez interesses recíprocos. Talvez nada. "Hipóteses realmente racionais", pensa consigo mesma. Mas não, seu coração acelerado cisma em lhe dizer que há sim um amor único, um amor além do instinto e da razão. O problema não é a (in)existência do amor, mas a (in)capacidade de acreditá-lo, de senti-lo. Aline então dorme tranquila, pensando que, quem sabe, algum dia, poderá amar alguém assim.