Vida de Cão. "Diário de Um Cachorro"

“Diário de um Cachorro"

A família

Estávamos às voltas de arrumar um cachorro para as crianças.

O menino mais velho, onze anos, já havia ouvido tudo sobre pós e contras de ter um.

Foi um curso intensivo da mãe. Vacinação, banho, limpar as sujeiras, passeios na praça, etc.

Ficou decidido, era só ver a maneira de adquirir o animalzinho.

Particularmente acho que essa coisa de comprar um, é meio sem história, afeto. O último que tivemos, ainda sem as crianças, fôra ganhado de um amigo.

Em uma das caminhadas matinais, a mãe, observara um animalzinho dócil, que parecia sem dono, próximo a pista de Cooper.

Ao chegar em casa, nos deu a dica, e fomos conferir, descobrimos ser de uma família que residia próximo ao local. Fomos até lá, era uma casa humilde, dessas cheias de animais, galinhas, gatos, cães, eram os mais comuns. Cães eram dezenas, a maioria filhotes, criados soltos. O dono, um senhor já velho, disse que poderíamos escolher qualquer um.

O menino, se encantou logo com um marronzinho, achou ele mais animadinho, e foi o primeiro que pulou nele.

A menina, não queria nenhum, a princípio chorou, viu que o cão poderia ser forte concorrente, na divisão de afeto e carinho.

Mas, não tinha jeito, mesmo sem o consentimento da pequena, trouxemos o cão. Logo que chegamos em casa a menina mudou de idéia, e ficamos todos em paz. Vez ou outra, como previsto, rola ciúmes do bichinho, às vezes atenção demais, ao novo integrante da família, mas, logo ela interage e fica tudo bem.

O Cão

Au...Au...Au...

Quando vi aquele cara, com dois pentelhos, para mim buscar, confesso que a primeira vista, não gostei.

A menina, parecia chatinha, chorava atoa. O cara que estava com as crianças, parecia legal pensei que poderia ser melhor ir com eles do que ficar naquela incerteza que vivia, aí pulei no menino e parece que foi ali que ele gostou de mim. Um sorriso vale mais que mil palavras.

Já no carro, mudaram meu nome, era Boby, mais eu nem tinha me acostumado com esse nome, quase ninguém me chamava, não tinha muita atenção. O menino quis “AKAMARO”, ficou assim, hoje acostumei, mas, na hora, fiquei puto. Onde ele arrumou esse nome? Mais tarde vi, que era de um desenho, que ele gostava, NARUTO.

Vamos indo bem, tenho uma vida boa. Me tratam como um membro da família, às vezes até melhor que um deles. Brincadeira.

Me inclui em tudo, até nos puxões de orelha de vez enquanto. A mãe é brava.

O pai é um cara legal mesmo. A ração é da melhor qualidade, no café da manhã, ele burla as leis e me dá uns biscoitinhos, rosquinhas, a mãe não gosta, mas, o pai da jeito.

No sábado, não falta o pastel da feira. O pai vai cedo na feira, e me traz um pastel. Contra vontade de todos, menos a minha, é claro.

Além da ração, tenho um cardápio bem diversificado, que vai de abóbora, até maça, milho verde cozido, banana, etc... tudo saudável, com consentimento da mãe.

Ah, adoro vitamina, a mãe sempre faz, para todos nós.

É, mais, às vezes tenho que aturar cada uma. A pentelha, coloca roupas de boneca em mim, e faz eu dançar com ela, segurando pelas minhas patas dianteira, ela me dá uma canseira.

O banho também é chato, o menino que detém o cargo de dar banho em mim, fica enrolando, não termina logo, e não gosto disso. O resto, é só alegria.

Os humanos, dizem que estão levando uma vida de cão, quando as coisas não estão indo bem. Até hoje, não entendi essa expressão, talvez porque eu seja um Cão.

A vida, é feita de escolhas, eu escolhi ser legal com aquele garoto que foi até minha antiga casa, e minha vida que não era tão boa, mudou para melhor. Às vezes falta isso nos humanos, a vida é feita de escolhas, e se formos legais uns com os outros, a chance de sermos escolhidos, é muito grande, e a vida pode melhorar.

A questão de levar ou não uma vida de cão, é relativo, faz parte das escolhas em nossa vida, e nós detemos o poder das escolhas.

Tenho dito. Au...Au..Au...

Autor: Denilson Medeiros

Denilson Medeiros
Enviado por Denilson Medeiros em 21/04/2014
Reeditado em 21/04/2014
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