OBSERVAÇÕES VAGAS DE UM BRASILEIRO INCOMODADO

AS PESSOAS SE MOSTRAM NA REDE. Rede social é uma realidade inexorável. Há quem diga que já pode ser considerada mais viciante do que qualquer droga. Verdade vicia? Não sei. Mas acho que comunicação vicia. E, amantes da verdade ou não, os brasileiros, naturalmente viciados em comunicação como qualquer povo, tem mostrado quem são nas páginas eletrônicas. O tipo de brasileiro que tenho visto nas páginas do Facebook, é, no, mínimo, preocupante – e antes eu pudesse chamá-lo apenas de confuso. O brasileiro que tenho visto é alguém com certezas até demais: a certeza de um dono da verdade. Este brasileiro tem certeza de que a Globo não presta, não porque ela mente ou porque apoiou a Ditadura Militar ou porque omite notícias desfavoráveis às corporações a quem serve e de quem é parceira, mas por causa dos beijos gays nas novelas. O brasileiro se mostra homofóbico. É contra as minorias, sem perceber que o próprio Brasil é tratado mundialmente como uma minoria. O brasileiro não é solidário. Não ser solidário às minorias é como não ser solidário com o próprio brasileiro. Este brasileiro diz que tem que haver ricos e pobres e chega a pedir a Deus para abençoar os ricos. Ele não tem consciência de classe e não sabe o que é a mais-valia. Ele acha natural uma pessoa viver da exploração de outra: princípio básico e sustentáculo da sociedade capitalista. O brasileiro é capitalista, ainda que seja pobre, sem qualquer bem ou acúmulo de capital e explorado. Ele faz orações pelos empresários, pois dali vem seu emprego. Ele crê que um emprego que mal dá pra comprar comida é uma benção. Ele não sabe o quanto o desemprego é útil às corporações, que, com base neste, nivela por baixo os salários. Ele acha natural um irmão explorar o outro, gerar riqueza com o trabalho do outro. O brasileiro ama o capitalismo mais do que a Deus, mas adora dizer, em relação às coisas erradas que acometem a sociedade, que “a culpa é do sistema”, sem dar-se ao requinte de completar a frase – até porque não sabe do que está falando. Parentese (a frase que você queria dizer, amigo, mas não soube, é; “a culpa é do sistema capitalista”). O brasileiro que tenho visto tem frases de efeito do tipo: “não adianta ir pras ruas protestar como um leão e depois ir às urnas e votar como um cordeiro”. Ele prega o “voto consciente”. E eu sinto sempre vontade de perguntar a ele: “Amigo, em quem você vai votar?”; “você vai escolher o menos pior, é isso?”. O brasileiro que tenho visto diz que é contra a corrupção, mas adora o clientelismo, e não perde a oportunidade de aceitar favores pessoais de políticos: ele não consegue identificar isso como imoral ou ilegal. Ele só acha que o camelô é um criminoso e se orgulha de não comprar (muitos) produtos piratas. No entanto, acha muito natural um comerciante legalizado vender sem nota fiscal. O brasileiro que tenho visto odeia baderna. Mas não sabe que se não fossem os trabalhadores baderneiros da Inglaterra no século XIX, ele estaria ainda hoje encarando uma jornada de trabalho de 16 horas por dia, sem direito a folga. Não sabe que se não fosse uma baderna chamada Revolução Francesa, ele hoje não teria o direito de escolher seus representantes políticos. Muito embora os nossos supostos representantes de hoje estejam representando muito melhor as corporações e o ricos, os verdadeiros donos do poder – não que um dia tenha sido muito diferente. O brasileiro que tenho visto não se sente confuso e isso eu considero um problema da maior gravidade.