Reflexões sobre o livro “Mercador da Fé”

Não endeusemos os homens, pois eles certamente se deixarão dominar pela soberbia e se tornarão tiranos. Não significa que os deuses sejam soberbos e tiranos, mas os homens é que não sabem lidar com o poder que lhes é atribuído. Não humanizemos os deuses, pois eles se tornarão fracos e injustos. Não que todos os homens sejam fracos e injustos, mas têm tendência indiscutível para a passionalidade e para colocar seus interesses pessoais acima dos interesses coletivos. Deixemos, portanto, cada qual em seu devido lugar. Assim, o Equilíbrio necessário à Vida far-se-á presente. Isso não significa conformismo, mas sim a consciência de que cada coisa na Natureza tem o seu devido lugar e a sua devida função, que não devem ser alterados, sob pena de um alto preço, pago em ambos os lados da Existência e por muitas vidas.

Da mesma maneira devemos proceder com o Bem que praticamos. O ato deve ser anônimo e isento da exigência de qualquer espécie de retribuição, ou do desejo de que tal se realize. O Bem não nos pertence, então não é uma mercadoria que possa ser vendida ou trocada. Para as mentes mais desavisadas e para os sentidos menos desenvolvidos, aviso que quando falo em venda ou troca, não me limito ao dinheiro. Aquele que se vangloria da ajuda dada e alardeia seus feitos aos quatro cantos incorre em crime que escapa à moral e às leis dos homens, porém, jamais fica impune à Lei Divina. Deixemos que o beneficiado propague o Bem recebido e cale-se quem o pratica. Do contrário, o que deveria ser saldo, acaba virando débito perante a Espiritualidade, tanto do Alto quanto do Baixo Astral.

Inútil é encantar-se com palavras sem que os sentidos estejam preparados para digeri-las. Nada aceitar do que se ouve ou do que se lê, considerando apenas o próprio ponto de vista como verdade absoluta, consiste em orgulho e até mesmo medo de perder um espaço que, conscientemente, sabemos ser provisório. O oposto, aceitar tudo sem questionamento algum, é um erro tão grave quanto o anterior, pois revela fraqueza de personalidade e, muitas vezes, ausência de amor próprio. Isso nada tem a ver com falta ou excesso de Fé, pois a Fé quando verdadeira não cega os olhos para a realidade.

Não adianta sermos letrados, estudados, graduados se não conseguimos enxergar o óbvio que está à nossa frente. Se querem exemplos, vamos a alguns.

Primeiro: de que adianta conhecermos a história do Mercador da Fé, do Guardião da Meia-Noite e sabermos que Nada é por Acaso se continuamos a ser guiados pelo desejo de vingança, pela inveja, pela ganância e ambição desmedidas, seja por dinheiro, poder ou status? Será mesmo preciso conhecer por experiência própria, in loco, o abaixo do fundo do poço para que nos reconheçamos apenas como uma parte ínfima da grande engrenagem da Vida?

Qual a utilidade de saber O Que Aconteceu na Casa Espírita quando não são reconhecidas e aceitas as próprias fraquezas e quando não há disposição para mudá-las?

É! Como disse o velho e saudoso Raul “é sempre mais fácil achar que a culpa é do outro”.

Quando lemos com a devida atenção e com a mais devida ainda reflexão “Aconteceu na Casa Espírita” e “Mercador da Fé”, temos ali perfeitos exemplos do que não fazer, de condutas a serem evitadas e das consequências materiais e espirituais de tais atitudes. Mas de que nos valem os bons exemplos quando não seguidos? De que vale o trabalho dos Espíritos de Luz e dos médiuns que produziram essas e outras tantas obras? Enquanto leituras forem feitas sem reflexão e a prática não corresponder ao discurso pregado, infelizmente é isso que veremos.

Acordemos enquanto há tempo porque na hora do acerto de contas não há possibilidade de ajustes, acordos ou propinas perante a Lei Maior.

Cícero Carlos Lopes – 19-04-2014

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 23/04/2014
Reeditado em 05/12/2021
Código do texto: T4779178
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