Lado A, Lado B

Querer estar sempre bonita é uma das manias das quais gostaria intensamente de me livrar. Arrisco chutar que pelo menos 80% das mulheres na faixa dos 15 aos 50 anos tenham a mesma preocupação, em maior ou menor grau.

Cabelo, maquiagem, roupa, sapato: tudo em cima? Beleza, já posso sair de casa. Barriga, bumbum, braços: tudo durinho? Posso ir para praia sem canga. E tudo isso para quê? Pra ganhar meia dúzia de elogios ou talvez despertar um pouquinho a inveja alheia? Este é o meu lado A, muito prazer.

O problema é que meu lado B anda em frangalhos. E isso não desperta inveja em ninguém. Se sua imagem pudesse ser vista no espelho, estaria com as roupas rasgadas, descalça, imunda, pedindo esmola, com olheiras de quem não sabe o que é dormir ou descansar há muito tempo. Seria como aqueles zumbis dos filmes ou os drogaditos da Cracolândia que se arrastam em busca de só mais um trago. Ou, eu, de só mais um afeto...

Meus lados, o A e o B, vivem em oposição e essa dissonância às vezes é paralisante. É sufocante. É insuportável.

Se eles pudessem, apenas por um dia, trocar de lugar, minha alma seria elegante, meu visual seria ridículo e eu seria incrivelmente mais feliz...