A crônica de uma escola falida.

No final do mês de abril ainda não foram enviados os diários escolares. E não há previsão de chegada. E isso tem muitos objetivos: esconder a falta de professores e, consequentemente, o conteúdo não ensinado. Solidificar a escola cartorialista em que os documentos - diários, inclusive - estão impecáveis, sem quaisquer rasuras. No segundo semestre, os diários estarão completos, com todos os lançamentos, inclusive das aulas e conteúdos que não foram ministrados. É que as prefeituras e até o estado evitam fazer concursos. Assim, contratam através de PSS os professores e demais funcionários escolares. Esses contratados, que muitas vezes nem fizeram o processo seletivo simplificado, são mais vulneráveis à sanha e à peçonha da administração pública politiqueira e se corrompem: lançam aulas e conteúdos que ninguém ensinou, presenças e faltas de alunos que eles nem conheceram e criam a ilusão para os pais de que está tudo bem. E os pais aceitam isso com a maior tranquilidade, não se preocupam com a escola, nem com a qualidade de ensino, se está havendo aulas, se o filho está indo à escola, se está aprendendo, se faz os deveres de casa, se se comportam bem, se respeitam colegas e professores...

Os dirigentes das secretarias de educação quase nunca vão às escolas. Quando eles fazem isso, logo que chegam cobram melhoria nos índices de avaliação de aprendizado (ENEM, IDEB, ETC). No entanto, se o número de reprovação na escola está alto, dizem que os professores estão ainda muito presos a notas. Esquecem-se de que o resultado das avaliações de aprendizado é apresentado em notas, que por sua vez são usadas para cobrar melhor resultado do docente.

As leis são feitas de tal modo que, respeitadas pelo professor, farão com que o alunos se acostumem com um mundo muito diferente do que vai encontrar fora da escola. Na escola, para que não haja reprovação, a lei faz com que o aluno vá sempre adiante, com ou sem mérito. Tudo lhe é dado e nada é cobrado. Com tanta libertinagem, irresponsabilidade e falta de compromisso, o aluno deixa de ser aluno. Para que prestar atenção à aula se a aprovação já está garantida por lei? Para que estudar se haverá inumeráveis chances de recuperação? Para que respeitar o patrimônio público, os colegas e professores se são inimputáveis? O aluno na rede pública é tratado como um acéfalo que, por não ter esse membro, precisa da mão irresponsável da administração pública para conduzi-lo ao fracasso pessoal, social e profissional.

E ai do professor que quiser impor um mínimo de disciplina!!! Será execrado inclusive por colegas. Será ameaçado por seus alunos e muitas vezes será agredido verbal e fisicamente. Os pais dos alunos que foram advertidos, penalizados por algum ato não condizente com o ambiente escolar, irão até a escola, farão reclamações formais e quase nunca procurarão conhecer a versão do professor e da escola. Aliás, poucos pais vão à escola e, esses poucos, são os pais dos alunos que têm conduta elogiável

E o pior é que isso acontece por improbidade administrativa, por ingerência política, por covardia de muitos professores que se submetem ao sistema emburrecedor e pela completa ausência dos pais e da sociedade em geral na luta por uma melhor educação.

Por isso, a cada dia vemos na imprensa notícias da violência que nos agride no trânsito, dos assassinatos desumanos, do excesso de vagas em certas empresas e falta de profissionais capacitados para ocupá-las, do aumento da corrupção ativa e passiva e todas as mazelas sociais com as quais convivemos hoje.