Vencendo desafios

“Mais do que européia, a Segunda Guerra Mundial foi global. A guerra envolve todos os cidadãos cuja vida é transformada e dominada”, escreveu Eric Hobsbawm, historiador britânico. Depois da entrada do Brasil na guerra, cada brasileiro sofreu na pele a conseqüência desta guerra. O racionamento dos combustíveis gerou um grande descontrole nos meios de transporte o que acarretou a falta de muitos itens necessários, ao seu dia-a-dia, como o açúcar, o sal, a carne, a farinha de trigo que provocou em conseqüência a falta do pão branco. Divinópolis não fugiu à regra. Eu ainda não tinha idade suficiente para sentir as suas interferências mas minha mãe conta que passou a fazer bolos e mingaus, usando, ao invés de farinha e açúcar, o fubá e a rapadura ou açúcar mascavo, além de outras alternativas na confecção dos alimentos. As donas de casa reclamavam que as padarias fabricavam somente biscoitos de polvilho e sentiam a falta do pão de sal. Nesta época, com o macarrão importado da Argentina, nasceu o “pão de macarrão”, tão popular que sua receita ficou registrada no livro “Não É Sopa”, de Nina Horta, de 1995. A escassez levou à inflação e o preço dos alimentos aumentou consideravelmente. Os açougues só abriam duas vezes por semana e fazia-se fila bem cedinho para conseguir comprar uma carne de primeira. A maioria dos donos de carro teve de trocar os motores para que esses fossem movidos a gasogênio. Muitos motoristas guardaram seus carros de passeio e esperaram acabar a guerra para normalizar a venda da gasolina e a reposição das peças necessárias. Nesta época, meu tio Alípio tinha um caminhão Ford 37. Minha avó dizia com orgulho que ele era o melhor mecânico da cidade. E, ao faltar a gasolina, ele mesmo fez as adaptações necessárias no caminhão: “O álcool é mais pesado que a gasolina e foi preciso modificar o carburador. A Usina de Gravatá fornecia o álcool que custava 5 mil reis o litro”. Com este veículo adaptado, fazia viagens a trabalho e passeava com a família. Não poderia ultrapassar 30 km por hora conforme o Decreto-Lei assinado pelo presidente em exercício, Getúlio Vargas. Um dia, Tio Alípio estava na cidade de Luz e precisou abastecer seu caminhão. O único lugar onde ele poderia encontrar o “combustível” era numa farmácia. Comprou todo o estoque que era exatamente 15 litros. E eram necessários 20 litros para que pudesse voltar para casa. E foi fazendo “economia de guerra” que ele conseguiu chegar são e salvo.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 05/05/2014
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