ENGOLINDO O OSSO...

Nas visitas que eu fazia a Piranga, trabalhando junto aos clientes da Minascaixa, naquela cidade, quase sempre às quartas-feiras, costumava passar na fazenda Baía onde a comadre Glorinha, esposa do compadre Raimundo Bananal, sempre fazia um tira-gosto para que eu comesse quando voltasse, ao anoitecer.

Naquele dia, não foi diferente. Passei na fazenda e solicitei ao Armando, filho da comadre, que pedisse à sua mãe para fazer um pequeno pato com macarrão. Aliás, a comadre é uma excelente cozinheira, especialista em pato com macarrão.

Naquele dia, eu teria a companhia do Zé Maria, filho do tio Ninico, que foi comigo para Piranga.

Em Piranga, fiz o meu serviço e disse ao Zé para não comer nada, pois um pato estava à nossa espera na fazenda.

Chegamos à fazenda na expectativa de tomar uma boa pinga e saborearmos o pato. Logo percebemos que tínhamos algumas visitas: Geraldo Maciel e Joaquim Couto. Aí, eu disse para o Zé:- Não fale nada sobre o pato, pois ele é pequeno e não será suficiente para quatro pessoas...

Chegamos, cumprimentamos os dois, falamos sobre vários assuntos e nada deles irem embora. Notei que o Joaquim, de vez em quando, tossia e levava a mão ao pescoço. Zé Maria e eu fingimos que íamos sair para despertar neles a vontade de ir embora, e nada...

Notei, também, que o Armando estava meio desconcertado, pois sempre nos fazia companhia quando tínhamos um tira-gosto na fazenda. Além disso, era ele que trazia as panelas de sua casa com a gostosa comida e voltava com as mesmas no final da festa...

Depois de quase duas horas, o Geraldo e o Joaquim resolveram partir. O Joaquim sempre tossindo...

Tão logo eles saíram, perguntei ao Armando pelo pato: - E aí, onde está o pato?

O Armando, muito sem jeito, tentou explicar : - Eles chegaram aqui e me disseram que vocês não viriam mais e, por isso, comeriam uma parte do pato e deixariam a outra parte para vocês, caso aparecessem.

Destampamos a panela na esperança de encontrarmos o restante do pato. E lá estavam, apenas, os ossos deixados pelos dois pilantras.

Fomos para Calambau e, lá chegando, liguei para o Geraldo para dar-lhe uma bronca. Quem me atendeu foi a minha irmã Neide, esposa do Geraldo. Ela me disse que ele tinha ido ao Hospital levar o Joaquim para que fosse retirado um osso que estava agarrado na sua garganta.

Passada a raiva, fui ao Hospital ver o que estava acontecendo. Lá estava o Geraldo aguardando o Joaquim que estava na sala de cirurgia com o médico tentando tirar o osso de sua garganta. Fiquei lá com o Geraldo e, após uma hora de espera, sai o médico da sala com um pedaço de osso de, mais ou menos, cinco centímetros que havia sido retirado da garganta do Joaquim. Aí, eu disse para o Geraldo: -Tá vendo só? Foram comer o meu pato, né? E o Geraldo me respondeu: - Que pato? Não comemos pato nenhum .

- Olha compadre, disse o Geraldo, você pode olhar direito que isso nunca foi osso de pato. Tá parecendo mais o osso de um frango que a Neide fez prá nós, no almoço. Pela cor, é ele mesmo, completou com um sorriso gaiato.

Entendi... entendi, também, o motivo da tosse do Joaquim...

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Calambau /março/2013

Muilo Vidigal Carneiro

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 09/05/2014
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