Guerra

Sempre via a guerra na televisão, nunca entendia. Meu pai, um militar, dizia que a guerra resolvia tudo. Era uma forma de mostrar que alguém ou algum país é forte. Impor respeito, medo. Não era muito de acordo com isso, mas cresci assim.

Quando me alistei para o exército, era um bom rapaz, não era brigão; entrei para seguir carreira, mais nada. No primeiro mês era somente treinamento físico. Levantávamos às quatro horas da manhã, corríamos em volta do quartel, era puxado, mas nada que não sobrevivêssemos. No decorrer da manhã fazíamos a limpeza do lugar. Éramos oitenta e quatro recrutas, sobrava tudo para nós. Depois do almoço, havia um treinamento de tiro ao alvo, ficávamos um bom tempo praticando. Após um bom tempo, fomos fazer o treinamento de sobrevivência. Foram dias difíceis. Passamos muita fome, comíamos até minhocas. Era tudo o que tínhamos. Seis meses corridos retornamos ao quartel. Apesar de tudo, éramos amigos, também vivendo praticamente vinte e quatro horas por dia.

Houve uma guerra, no sul do país. Nosso quartel foi convocado para dar cobertura. Foram todos, os oitenta e quatro soldados; já estávamos preparados para a guerra. As sirenes tocaram no meio da noite, era um ataque surpresa noturno. Foi um grande alvoroço, cada um corria para seu posto. Estava eu e mais cinco soldados. Começaram os bombardeios, explosões para todos os lados. O inimigo começou a invadir. Nós nos defendemos, conseguimos derrubar muitos, estávamos bem camuflados. Um tiro acertou o companheiro, no braço, na hora fizemos um estancamento, em quanto os outro defendiam o posto. Na defesa, acertaram mais dois, um na cabeça e outro no peito, morte súbita; sobram somente eu e mais um e outro ferido. Era horrível, havia pessoas mortas ao meu lado, sem levar em consideração os outros que eu não conseguia ver. Dominaram a base, sobrevivi, renunciei; não me sinto um derrotado, ainda estou vivo. Nunca entendi o motivo da guerra, só me lembro que na televisão não era igual no campo de batalha. De nada valeu a guerra. Somente trouxe tristeza e sangue. Mais nada.

Dionísio
Enviado por Dionísio em 08/05/2007
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