OS ASSANHADOS.

O casal resolvera não ter mais filhos. A coisa estava apertada, o homem dava duro para mal-mal botar comida na boca da filharada – contingenciavam o incontingengiável. O mais velho já estava na faixa dos sete anos, o caçulinha - de peito - ainda faltavam meses para um ano. E havia ainda mais três. Do jeito que a coisa andava bem – de um certo ponto de vista – logo-logo teriam um time de futebol em casa. O marido bolinava a dona patroa toda noite, e até de dia nos dias de folga, e ela não se dava por rogada: Fazia hora extra e elogiava o patrão. Sobrava disposição e o “malandrão vivia em atividade”, ou como já ouvi dizer por aí, “todo dia havia afogamento de ganso naquela casa”. (É necessário aqui explicar que é apenas uma expressão para designar, popularmente, um ato sexual – Vai que dirão que estou fazendo apologia a crueldades contra animais?).

Procuraram o doutor Olide, homem de mãos boas, mãos grandes. Cuidava da saúde da mulher e do marido. Esse era o seu lema: “Médico que é médico com o coração cuida da família por completo". Daí que fazia, inclusive, o exame do toque nos homens, que mesmo a malgrado se satisfaziam com a argumentação do doutor, de que aquilo era apenas um toque que poderia salvar as suas vidas”. “O toque da saúde” – assim eram as suas palavras. Diziam alguns, os do deboche, que aquele toque era de ver estrelas. Metade da cidade tinha posto a cara no mundo por suas mãos. Muitas crianças até tinham o nome Olide, em homenagem ao “dotô”. Era a presteza em pessoa e especialista em pobre.

Não ia doer nada, acalmou o médico - seria por via baixa. Dito e feito. Ligadura pronta e porteiras abertas. Maravilha! Exame de próstata feito. Nada de maravilha, mas deixa estar, a saúde em primeiro lugar!

Acontece que a vida não é simples clichê. A vida é uma caixinha lotada de surpresas até na borda. Poucos meses e muitos calamengaus depois, a patroa começou a se preocupar pela menstruação que não vinha. Enjoada – não era possível. E ela que se gabava por ser reguladinha como um relógio suíço. Besta!

Deixou passar um tempo para se certificar do que desconfiava. Fez exame e não deu outra: Embuchamento! Bebê na mosca! Marido virou o diabo quando soube. Xingou até santo. Estava um perrengue danado botar comida dentro de casa pra sete bocas e agora mais uma? “Aquele dotô me paga!”. Pois não é que chegou na Santa Casa, feito um bicho feroz, cheio da coragem, destas que não se compram em farmácia ou gôndola de supermercado, com um “berro” em punhos – que não se sabe onde arranjara – abrindo eito em meio a paramédicos e outros tantos que entupiam o hospital. Encontrou o doutor Olide, que já percebido do motivo do alvoroço, batia em retirada. “Corre não, seu dotô de meia tigela que não serve nem pra capar porco!” Foram três tiros bem nas nádegas do médico em berros de pára com isso homem, pelo amor de Deus!

Deu cadeia, pouco tempo, mas deu cadeia. Era tido como homem respeitoso, de muito suor, sem antecedência de crimes, sem constância de cachaçada. Seu único deleite era estar com a mulher. A justiça considerou e amainou a pena.

Pelas graças de Deus o menino nasceu e cresceu com muita saúde, apesar da carência material da família. Alan Diego está com dezesseis, é bonitão e educado. Joga um futebol fácil. Não é firuleiro enganador não! É Craque de verdade! Já está de contrato com um grande clube e já falam em Europa. Longe de casa, sente falta do tempero da comida da mamãe e do pôr-do-sol, tão bonito na sua terra natal.

Deus escreve certo por linhas tortas, mas atenção redobrada em quem é entortador de linhas. É por isso que não carecia de ter dó do Doutor Olide. Ele está no terceiro mandato de prefeito e emprega a parentada toda. Só de filhos – mais de quinze – frutos do casamento e de muitas poucas-vergonhas extraconjugais. Todos são bem remunerados pelo erário público. Dizem que a “nepotada” encheria o campo de futebol do estádio que ele mandou construir na cidade que nem time de futebol tem.

Moral da história: A vida é por vezes muito gozada!

***********************************************

»»»» Peço um favor: acesse o google e busque a expressão “Crônicas do Joel”. Clique e entre neste site. Isso fará com que o site continue vá para a 1º página da pesquisa "cronicas", e assim, terá mais chance de ser acessado (e quem sabe, apreciado). Agradeço com meu coração, se assim você fizer. “Certamente você será abençoado por isso”.

"Crônicas do Joel" é um blog de crônicas, contos cotidianos, causos, prosa, versos, reflexões... Histórias "pretensamente" divertidas e líricas. Intimista, procuramos conjugar uma lógica de entretenimento com um cuidadoso caráter informativo, dosando eficazmente momentos lúdicos e sérios.

Joel Rogerio
Enviado por Joel Rogerio em 08/05/2007
Código do texto: T480137