ANTES DO GRANDE BAILE.

Eu queria me vestir de roupas que dissessem de uma alegria que trago comigo desde o tempo que os generais nos tentaram furtá-la. Sim, foi possível ser feliz, apesar de todo o poder de chumbo que embriagava os generais. Sim, e desconfio que minha vida faz-se longa.

Eu queria uma roupa cafona. Cafona para ter-me ainda mais feliz de volta. Não, não brega, felicidade não se paramenta deselegante. Cafona é ser feliz retrô, é démodé. Brega sim, é duvidoso gosto – é o pavão – ave ornamental, para os muitos jardins públicos.

Disse à obsequiosa atendente da loja que a roupa seria para o grande baile, que eu deveria me vestir assim “Dancin' Days”. Ela trouxe-me uma camisa supercolorida, e eu não queria ornar nenhum jardim. Falou-me que ficaria bem a calça laranja. Respirei fundo, ao meu jeito de não dizer nada e tudo, e lembrei-me da buganvília que floria o ano todo no jardim da minha casa, na era dos generais.

O preço da fantasia? O olho da cara! O que não me impede de estar no baile do cafona, a sorrir meu bem!

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