A Flecha

Iara chegou em casa e jogou a bolsa sobre a mesa e desabou na poltrona. Chorou tudo que pode com a cabeça baixa entre as pernas. Quando levantou a cabeça viu seu avô, com longos cabelos brancos que desciam pelas costas e um semblante triste esperando a neta falar:

- Que foi que aconteceu minha rainha das águas?

A moça limpou as lágrimas e sorriu :

- O senhor me chama assim desde pequena...

- Isso mesmo, e quero saber porque a rainha das águas derrama cachoeiras dos seus olhos.

- A avô perdi o emprego, agora como vai ser de mim? Minha faculdade? Como eu vou me sustentar? São tantos problemas... Minha vida virou de ponta cabeça, tudo anda pra trás.

O velho índio pegou a neta pela mão e a levou para o quintal sem dizer nada. Foi até a garagem e ficou lá por uns minutos voltou com um arco e uma alveja nas mãos.

- Pra que isso vô?

- Era sua brincadeira favorita não lembra?

- Sim... Eu me lembro, só não entendo o porquê disso agora.

- Pegue rainha das águas... Atire uma flecha.

Iara sem entender nada pegou o arco e escolheu uma das flechas. Olhou o avô e ele sorriu fazendo um gesto com a cabeça e falou:

- Observe rainha das águas, quando você quer lançar a flecha pra frente você deve puxá-la para trás...

A moça ficou quieta com os olhos fixos na flecha e o avô continuou a falar.

- Uma flecha só pode ser atirada se for puxada pra trás... Assim é nossa vida. Quando aparecem as dificuldades e a gente pensa que a vida está andando pra trás não se deve dar o coração ao desespero.

Iara agora olhava para o avô que falava sorrindo.

- A vida não está te empurrando pra trás minha filha, está apenas te dando um impulso para que você voe mais longe e até mesmo mais rápido que você pensa.

A jovem então esboçando um sorriso olhou para a última árvore do quintal e o avô continuou a falar:

- Então se concentre, mire no seu objeto... Acerte o alvo... Isso tudo é a mensagem da vida te dando forças para você acertar a felicidade.

E na mesma hora Iara soltou a flecha e acertou o alvo.