Festa dos Caboclinhos


Era um tiquinho de gente, mas de uma vivacidade que acredito ser fora da época. 
Eu mesma cuidava do meu viver feliz. 
E se nas minhas lembranças existe uma pessoa que não posso esquecer é de Maria Alacoque. 
Foi minha professora que me ensinou a rezar o Pai Nosso e a Ave Maria. 
Acredito que todas as crianças daquela pequena cidade foram suas alunas de catecismo.
Lembro bem de uma música que ela nos ensinava. E gravei para sempre na minha memória.
"Mãezinha do céu
Eu não sei rezar
Só quero repetir
Quero de te amar
Azul é teu manto
Branco é teu véu
Eu quero ser tua
Ó mãezinha do céu!"
 
Éramos de 20 a 30 meninas, cantando esse hino em coro que ao lembrar me faz chorar de saudade!
Saudade de coisas boas, de tempos bons, da nossa inocência, quando não conhecíamos o que era a maldade humana que vemos pelas ruas ou pelo mundo afora.
E Maria Alacoque, figura muito conhecida na cidade, era a organizadora das festas de fim de ano. Preparava o presépio que era verdadeira obra de arte. 
Acredito que além de professora era mestre na arte de decoração porque o seu presépio era comentado e visitado por muita gente que admirava aquela beleza.
Nos preparava para uma festa, onde eu não entendia nada, e só depois que cresci a curiosidade me fez retornar à aqueles tempos inesquecíveis e constatar que os costumes ali eram parte de uma cultura de povos e tempos que estão registrados nas memórias daqueles que preservam as lembranças.
As famílias preparavam os presépios em suas residências e a noite o cortejo de Maria Alacoque saia de cidade a fora composto pelos seguintes personagens.
Os índios, os caboclinhos, as ciganas, as pastorinhas, os beija flores, as borboletas, o pastor, os anjos, a estrela, o sol e a lua e os três reis magos com os presentes.
Eram as alunas (os) e ex alunas (os) do catecismo que faziam parte desse espetáculo, que atraia a cidade inteira. Saiamos cantando e dançando pelas ruas a fora e o cortejo de pessoas para visitar o presépio da residência que nos esperava.
Eu era um dos caboclinhos, vestida de short vermelho com elástico nas pernas e uma faixa também vermelha amarrada no busto, o rosto  e braços pintados e uma faixa na testa com penas coloridas que ela preparava. E cantávamos bem assim: acompanhando a Maria Alacoque, em uma só voz o nosso bem ensaiado canto:
 
Vão chegando os caboclinhos,
Na cidade de Belém,
Tão lindos e pequeninos,
Quanta beleza que tem!
 
Quem são vocês?
Caboclinho da aldeia
Para onde vão?
Vamos a Belém
Vão ver a quem?
Jesus nosso bem
Vão ver a quem?
Jesus nosso bem!
 
E ao chegarmos na residência onde estava o presépio a festa começava. Com o canto e a dança dos caboclinhos!
A dança das ciganas, com seus chocalhos nas mãos
A dança das pastoras,
A cantiga da estrela, que dizia "que era uma estrela brilhante que Jesus veio anunciar" 
A cantiga do sol e da lua que iluminavam a terra.
Um verdadeiro teatro ao ar livre que atraiam pessoas de todos os lugares.
E era lindo demais!
Como não sentir saudade de tudo isso?
E no dia 06 de janeiro dia de reis, fazíamos uma grande roda na calçada da Igreja em volta da fogueira feita com as palhas de coqueiro que ornamentavam os presépios.
Cantávamos assim:
 
Essas palhinhas 
Que estão se queimando
É da nossa lapinha
Que está se acabando
 
Adeus meu menino
Adeus meu amor
Até o próximo ano
Se vivo ainda for.
 
E a minha homenagem nessa postagem é a Maria Alacoque, que tanto nos ensinou e alegrou.
E onde estiver, deve está espalhando a sua alegria sadia. Essa que faz a gente lembrar e não esquecer nunca mais.
Maria Alacoque faz parte da história de uma comunidade, que trouxe a cultura de povos espalhados pelos cantos da terra, e somente através dela é que conheci esse espetáculo e muito me orgulho por tê-la conhecido.
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Emedelu
Enviado por Emedelu em 22/05/2014
Reeditado em 01/06/2014
Código do texto: T4816299
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