Serrados Australianos
O assobio do vento nas árvores...
Em muitos lugares já foi descartado
Mas os Ipês continuam
Colorindo nossos serrados!
Atingimos o ápice do conforto
Mas não chegamos à maturidade.
Em agosto os Ipês perdem as folhas
Se transformam num edifício de flores
Num amarelo forte sem nenhum bordado...
Os cientistas modernos não conseguem imitá-los.
Resistem a um mês de sol!
Da aromática sombra
Em tapete amarelo
O chão é transformado.
Se revestem de vagens
Os missionários são despertados
Às margens das estradas
Até presidentes param
Para contemplar o sagrado!
Mas tratores de arrastões
Continuam devastando tudo
E as nascentes sendo demudadas
As montanhas despidas.
Os ventos fortes arrancam
Suas toalhas
Envergonhadas soltam a terra
Que em avalanches
Descem sem rumo fazendo rumores...
Os rios e os regatos e as fontes
Correm mais depressa tentando escapar.
Como eu amo estes serrados
Onde fui criado, vivendo tantas emoções!
Aquelas árvores todas tortas
E mal-desenhados abrigos de ninhos
Os ventos nas vagens, nos favos
Aquele tilintar... Não conheço
A Amazônia, mas fico a imaginar.
O serrado floresce na seca
Se cobre de frutas
Com as primeiras chuvas.
É nesta época que os pássaros
Se dispõem a cantar. Constroem seus ninhos...
Então aparece uma avalanche
De insetos para colher as frutas
Que se transformam no alimento dos pássaros
E dos filhotes. Uma orquestra sinfônica
De todas as manhãs!
Como eu amo estes serrados desvairados
Parecem não ter vida
Pelos poetas não foram lembrados.
Ali nasci e deixo a minha vida
Tudo que sou nasceu com os serrados!
São tantas flores, de todas as cores!
Exalam perfumes em todas as direções
E para a alegria da gente
Produzem sementes e distribuem em canteiros.
Ah! Meu Deus,
O doce daquelas frutas,
Os seus sabores, os seus aromas...
Consegui alguns diplomas
Mas minha faculdade
São os serrados e as riquezas
Pau-terra, jatobá, pequi
São tortos e rasteiros
Mas todos, forasteiros, boiadeiros e tropeiros,
Encontram boas sombras para descansar.
Todos recortados por estradas
E vários trilhos
E todas as famílias têm histórias
Para contar...
Se o poeta ficar indiferente
Quando os versos se ausentarem
É só visitar o serrado
Venha prosear mais a gente!
Esta imensidão torta, essa nobreza
Deu lugar pra mídia, pra riqueza
Toda devassada, trocada por eucaliptos...
Estes véus que cobrem nossas cabeças
Já começaram a sentir a ausência
Do canto do gago pássaro papa-formigas
Ironicamente nos chamando
De co...co...covarde! Co...co...covarde!
Mas ele não sabe que o papel
Passou a fazer parte
Da alimentação da gente,
E a cada caminhão carregado que passa
É o nosso serrado que chora
É o sertanejo mais empobrecido...