NÃO ERA BEM O CENÁRIO QUE EU QUERIA
 
  Eis que é chegada a hora de sentar diante desta maquininha infernal e batucando suas teclas tentar coordenar o palanfrório.
E, enquanto os dedos não recebem os impulsos emitidos do cérebro (oco) estico o pescoço na direção da janela. Que paisagem insípida, cansativa este quadrado me oferece: telhados sujos – que não são de zinco – de tão difícil acesso que desestimula até a subida dos gatos no cio efundos e mais fundos de casas de gente que não conheço.
Esta é a fonte de inspiração que me deparo neste momento.Foi ai que percebi que este não era bem o cenário que eu queria...E senti inveja sei lá de quem... Ou talvez, quem sabe..., dos que perambulam por New York, mas precisamente pela calçada do “Untitled Space Express Bar”. Nesse café você encontra de tudo: diretores, compositores, pintores, escultores e escritores, todos tentando fazer coisas para se  justificarem vivos.
Ah! Se é pra sentir inveja, que seja dos zés brasil, os que fazem reverência com o chapéu na mão, olhar para o alto em busca de Deus; são os que vivem porque Deus quer; que morrem porque Deus quer; os que acreditam que, se a seca castiga é porque Deus quer; se chove é porque Deus quer; se comem  ou passam fome é porque Deus quer. 
E, neste pensar vadio, só me resta sair por ai e fazer uma saudação mentirosa a um valentino qualquer, como fazia o mais inquieto e atormentado do que eu: Santo Agostinho, que em uma de suas andanças encontrou um pobre mendigo bêbado que ria e fazia arruaça. Sabia o Santo que a alegria do bêbado não era autêntica. Mas pôs em dúvida a alegria que ele próprio procurava com as suas ambições e enredos tortuosos. Numa noite o bêbado digeria o vinho e sua bebedeira passaria; ele, Agostinho, ao contrário, iria dormir e acordar com o mesmo tormento, hoje, amanhã, quem sabe até quando...

O que me anima é que o Agostinho chegou lá...
 
 
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 27/05/2014
Reeditado em 27/05/2014
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